Perícia vê elo na compra de terreno para Instituto Lula com caixa 2 da Odebrecht

Peritos do MPF analisaram documentos com a ajuda de ex-diretor do setor de propinas da construtora e concluíram que ao menos R$ 3 milhões ligados à compra de terreno na zona sul de SP foram movimentados no exterior

Discos rígidos encaminhados pela Suécia contém 1,7 milhão de documentos do setor de propina da Odebrecht
Foto: Reprodução/MPF
Discos rígidos encaminhados pela Suécia contém 1,7 milhão de documentos do setor de propina da Odebrecht

O Ministério Público Federal encaminhou nesta quarta-feira (30) ao juiz Sérgio Moro um laudo pericial com a análise de dados do sistema Drousys, usado para a comunicação entre funcionários do setor de Operações Estruturadas da Odebrecht – conhecido como o setor da propina.

A força-tarefa do MPF na Lava Jato pediu ao juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba que o relatório seja juntado aos documentos analisados em ação penal que apura  suposto esquema de pagamento de propina da Odebrecht  por meio da compra de um terreno  para a construção da sede do Instituto Lula e da aquisição de um apartamento em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.

De acordo com a análise pericial desenvolvida pela assessoria de Pesquisa e Análise da Procuradoria da República no Paraná, parte dos R$ 12,4 milhões gastos com o terreno destinado à instalação do Instituto Lula em um terreno na Vila Clementino, zona sul de São Paulo, foi "disponibilizada pelo Grupo Odebrecht com recursos de caixa dois". 

Esse montante teria chegado a R$ 3 milhões e foi movimentado no exterior por meio de offshores controladas por Olivio Rodrigues Júnior, reponsável por movimentações financeiras irregulares da empreiteira fora do País.

As informações do sistema Drousys , plataforma digital hospedada em Estocolmo, na Suécia, foram encaminhadas ao MPF em março deste ano. Os quatro discos rígidos de informações, segundo a Procuradoria, contém mais de 1,7 milhão de documentos, entre e-mails, planilhas e comprovantes de pagamentos.

Os peritos relataram ter chegado à conclusão de que a movimentação de R$ 3 milhões no exterior tinha relação com o terreno na Vila Clementino a partir do cruzamento de informações entre vários documentos. Essa análise foi realizada no início deste mês com a ajuda de Fernando Migliaccio da Silva, que já foi responsável pelo setor de propinas da Odebrecht e hoje tem acordo de colaboração com a Lava Jato.

Foram realizadas consultas em busca de informações relacionadas à expressão matemática “(3*1057)”, que consta na planilha " Posição Programa Especial Italiano ", apreendida com Migliaccio. Essa planilha seria usada para controle de pagamentos direcionados ao Partido dos Trabalhadores (PT) no exterior, e a fórmula "(3*1057)” seria relativa ao "Prédio (IL)" – identificação para o Instituto Lula.

"A partir dos dados obtidos pela coleta de documentos no sistema Drousys, efetuou-se análise das informações para demonstração das operações possivelmente correspondentes à expressão “(3*1057)”, relacionada à compra do imóvel localizado na Rua Doutor Haberbeck Brandão, 178, Vila Clementino, São Paulo/SP", escreveram os peritos.

Junto ao relatório foram encaminhados a Moro quatro documentos, incluindo comprovantes de transferências no exterior, que comprovariam as informações prestadas pela perícia, segundo o MPF.

Entenda a denúncia

Lula é acusado de ter cometido crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro nos episódios referentes ao terreno na Vila Clementino e a um apartamento no ABC Paulista. O ex-presidente prestará depoimento a Moro no âmbito dessa ação penal no dia 13 de setembro

As investigações indicam que o petista teria aceitado receber da Odebrecht, entre 2010 e 2014, um terreno na zona sul de São Paulo no valor de R$ 12,4 milhões para instalação da sede do  Instituto Lula  . A empreiteira também teria negociado a compra de um apartamento em frente ao que o ex-presidente mora em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. O imóvel é avaliado em R$ 504 mil.

Segundo o Ministério Público Federal, os imóveis foram oferecidos pela construtora a Lula como uma espécie de agradecimento pela manutenção de Renato Duque e de Paulo Roberto Costa em diretorias de interesse da empreiteira na Petrobras.

A defesa do ex-presidente nega que Lula tenha praticado os crimes imputados a ele e alega, em nota, que "as delações dos executivos da Odebrecht mostraram que o ex-presidente não recebeu tais imóveis, o que deveria justificar a extinção da ação por meio de sua absolvição sumária".

Leia todas as notícias sobre o ex-presidente Lula aqui no iG