Renan, Jucá, Sarney, Raupp e Garibaldi são denunciados por desvios na Transpetro

Acusados teriam recebido dinheiro desviado de contratos da Transpetro. Denúncia foi enviada ao Supremo Tribunal Federal no âmbito da Lava Jato

Renan Calheiros (PMDB-AL) foi denunciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado - 23.11.2016
Renan Calheiros (PMDB-AL) foi denunciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro

Romero Jucá, Renan Calheiros e José Sarney – três dos principais nomes do PMDB – foram denunciados nesta quinta-feira (24) ao Supremo Tribunal Federal (STF) por desvios em contratos com a Transpetro. Os senadores Valdir Raupp (PMDB-RO) e Garibaldi Alves (PMDB-RN) também figuram na denúncia oferecida pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

De acordo com a PGR, o grupo cometeu crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em episódios envolvendo negócios da empresa estatal no período de 2008 a 2012. A denúncia entregue ao ministro do STF Edson Fachin é baseada em depoimentos prestados por três delatores (que também figuram no ról de denunciados). São eles o ex-presidente da subsidiária de gás natural da Petrobras Sérgio Machado, o ex-executivo da Odebrecht Fernando Reis e o administrador de empresas Luiz Maramaldo. Nelson Cortonesi Maramaldo fecha a relação de acusados por Rodrigo Janot .

Conforme a denúncia, os senadores e o ex-presidente do Senado solicitaram, em razão de seus cargos, vantagem indevida ao então presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Para ocultar e dissimular a natureza do dinheiro, os senadores e Machado teriam ajustado o pagamento de propina por meio de doação a diretórios estaduais e municipais do PMDB, indicados pelos políticos.

Em contrapartida a esses pagamentos, Sérgio Machado teria praticado atos de ofício para promover, autorizar e direcionar as licitações e contratações da Transpetro em favor da NM Engenharia, empresa administrada por Luiz e Nelson Maramaldo.

A Procuradoria alega que parte dos valores foram repassados a aliados de José Sarney mediante a diversas operações fracionadas, uma estratégia para ocultar e dissimular a "natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade" da propina. Outra parte do pagamento das vantagens indevidas teria sido feito em espécie, por meio de intermediários.

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Doações ao PMDB

A denúncia narra que o dinheiro foi repassado aos seguintes diretórios: Diretório Estadual do PMDB no Rio Grande do Norte em 2008; Diretório Estadual de Roraima do PMDB em 2008, Diretórios Estaduais do PMDB, o do Maranhão e o do Amapá em 2008; e Diretório Nacional do PMDB em 2012 (Gabriel Chalita); Diretório Municipal de Aracaju do PMDB em 2008; Diretório Estadual do Tocantins do PMDB em 2010; Comitê Financeiro Único do PSDB em Alagoas em 2010.

“Os dados mostram que os estados de alguns dos membros do PMDB que são alvo da Operação Lava Jato receberam em 2010 e em 2014 recursos em montante desproporcional ao tamanho do eleitorado. Por outras palavras, os estados de domicílio eleitoral desses investigados ou denunciados, e não os de maior eleitorado, receberam os maiores volumes de recursos”, explica Janot. Esses 12 estados, apesar de concentraram apenas um terço dos eleitores, receberam dois terços dos recursos das campanhas majoritárias do PMDB de 2010 e de 2014.

Sérgio Machado tinha o apoio político de senadores do PMDB, inclusive dos denunciados, e do ex-presidente José Sarney, para sua manutenção no cargo de presidente da Transpetro. Esse fato foi, inclusive, demonstrado em gravação feita pelo ex-presidente da subsidiária. Em troca do apoio, omitiram-se quanto ao cumprimento do dever parlamentar de fiscalização da administração pública federal, viabilizando assim, indevidamente, o funcionamento de organização criminosa voltada para a prática de vários crimes, entre os quais corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da subsidiária da Petrobras. A sistemática de apoio político em troca de vantagens indevidas se repetiu exaustivamente na Petrobras, como revelado pelas investigações da Operação Lava Jato.

No caso da Transpetro, o ex-presidente da subsidiária participava de reuniões individuais, mensais ou bimensais, com os políticos e os presidentes e controladores das empresas pagadoras de vantagem indevida para acertar o montante que seria pago. Tais reuniões ocorriam na sede da Tranpetro ou, em se tratando de políticos, em Brasília. Isso era fato conhecido por outros parlamentares, a exemplo do ex-senador Delcidio do Amaral. Fernando Luiz, da Odebrecht Ambiental, em depoimento, disse que Sérgio Machado apresentou-se como arrecadador de vantagem indevida para o PMDB em 2008, especificamente para Renan Calheiros e Romero Jucá.

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Machado disse que sua atividade na Transpetro era guiada por duas diretrizes: “extrair o máximo possível de eficiência das empresas contratadas pela estatal, tanto em qualidade quanto em preço, e o máximo possível de recursos ilícitos para repassar aos políticos que o garantiam no cargo”. As empresas que não aderissem ao pagamento de vantagem indevida ou cessassem unilateralmente o pagamento delas depois não conseguiam novos contratos. Na gestão de Sérgio Machado, a NM Engenharia foi a segunda empresa com maior montante de recursos recebidos, à frente de empreiteiras como a Queiroz Galvão, a Galvão Engenharia e a Camargo Corrêa.

Rodrigo Janot pede a condenação dos denunciados pelos crimes imputados (corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro), a reparação à Transpetro dos danos materiais causados por suas condutas, dos danos morais transindividuais, já que os prejuízos decorrentes da corrupção são difusos (lesões à ordem econômica, à administração da justiça e à administração pública, inclusive à respeitabilidade do parlamento perante a sociedade brasileira), sendo dificilmente quantificados; e pede a decretação da perda da função pública dos condenados detentores de cargo, emprego público ou mandato eletivo, principalmente por terem agido com violação de seus deveres para com o Estado e a sociedade.

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