Operador de Eduardo Cunha volta à Papuda após passar um mês negociando delação

Preso há mais de um ano, lobista Lúcio Funaro passou semanas na sede da Polícia Federal em Brasília; ele é tido como peça-chave para investigações que envolvem Cunha, Temer e os ex-ministros Henrique Alves e Geddel

Eduardo Cunha e Lúcio Funaro: ex-deputado e doleiro atuaram juntos em esquema no FI-FGTS, segundo investigações
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil | José Cruz/Agência Senado
Eduardo Cunha e Lúcio Funaro: ex-deputado e doleiro atuaram juntos em esquema no FI-FGTS, segundo investigações

O lobista Lúcio Funaro, apontado como operador de propinas do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB)  em diversos esquemas criminosos, foi transferido nesta sexta-feira (11) de volta para o Complexo Penitenciário da Papuda.

Funaro passou cerca de um mês na carceragem da Superintendência da Polícia Federal em Brasília para facilitar a colheita de "novos esclarecimentos", conforme pedido de procuradores que atuam nas operações Sépsis e Cui Buono. Embora a defesa negue, é dado como certa a existência de negociação de um acordo de delação premiada por parte do antigo aliado de Eduardo Cunha .

A informação ganhou força após o advogado Cezar Bittencourt deixar a defesa de Funaro e revelar o interesse de seu ex-cliente em colaborar com a Justiça. O lobista é tido como peça-chave para investigações que envolvem Cunha, o presidente Michel Temer e os ex-ministros Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves.

Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o empresário Joesley Batista teria atuado para comprar o silêncio de Lúcio Funaro, assim como o teria feito com Cunha. O lobista e outrora corretor de valores é citado também em episódio que envolve Temer e suposta doação ilegal de R$ 4 milhões feita pela Odebrecht em 2014.

O ex-assessor pessoal do presidente José Yunes confirmou em fevereiro deste ano  que aceitou receber em seu escritório um pacote com documentos (cujo teor ele disse desconhecer) a pedido de Eliseu Padilha naquele ano. O pacote posteriormente teria sido retirado por  Lúcio Funaro .

Segundo o ex-executivo da Oderecht Cláudio Melo Filho, delator da Lava Jato, o pacote continha os R$ 4 milhões referentes à doação via caixa dois que havia sido combinada em reunião no Palácio do Jaburu entre ele próprio, Marcelo Odebrecht, Temer e o ministro Padilha. A Presidência da República confirma que a reunião aconteceu, mas nega que serviu para negociação de doações irregulares.

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Fraudes envolvendo a Caixa

Funaro está preso preventivamente desde julho do ano passado por decisão do juiz Vallisney de Oliveira Souza, da 10ª Vara Federal de Brasília. A ordem de prisão do lobista é baseada nas investigações sobre irregularidades em empréstimos feitos por meio de fundos de investimento controlados pela Caixa Econômica Federal.

Além de Funaro e do ex-presidente da Câmara dos Deputados, também são réus na ação penal que tramita em Brasília o ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB), o empresário Alexandre Margotto e o ex-vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal Fábio Cleto. O ex-ministro Geddel Vieira Lima também é alvo de investigação por suposto envolvimento no esquema, mas ele não responde como réu. 

Eduardo Cunha responde na ação penal pelos crimes de corrupção passiva , lavagem de dinheiro e violação de sigilo funcional. Segundo a denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal, o peemedebista teria cobrado propina de empresas, entre 2011 e 2015 para liberar investimentos feitos com recursos do FI-FGTS.

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