'Não interessa aos políticos o combate à corrupção', afirma Sérgio Moro

Em entrevista à Folha e a um grupo de imprensa internacional, o juiz federal falou sobre a Operação Lava Jato e o combate ao sentimento de impunidade

Em entrevista a jornalistas internacionais, Sérgio Moro defendeu operação e disse que combate a impunidade no País
Foto: Reprodução/Globo News
Em entrevista a jornalistas internacionais, Sérgio Moro defendeu operação e disse que combate a impunidade no País

O juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na 1ª instância, recebeu a imprensa internacional, do grupo de jornalismo colaborativo “Investiga Lava Jato”, e o jornal “Folha de S. Paulo” neste fim de semana para conversar sobre a operação e as repercussões do combate à corrupção nestes últimos anos. Para ele, “existe uma falta de interesse da classe política brasileira em combater a corrupção”.

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“Lamentavelmente, vejo uma ausência de um discurso vigoroso por parte das autoridades brasileiras em relação ao problema de corrupção. Fica a impressão de que essa é uma tarefa única e exclusiva de policiais, procuradores e juízes”, disse Sérgio Moro .

Sobre o sentimento de impunidade, o juiz acredita ser sistemático no País, mas que a Lava Jato veio mostrar que, ao contrário, isso não "será mais uma regra". 

Na entrevista, ele rebateu algumas críticas em torno da operação, como o argumento de que a Lava Jato persegue apenas um só partido. “Temos preso e condenado um ex-presidente da Câmara [Eduardo Cunha – PMDB-RJ], que era tido como inimigo do PT. Então, as críticas são equivocadas”, defendeu.

Outra questão abordada pelos jornalistas foi sobre as escutas divulgadas que envolveram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a então presidente Dilma Rousseff. Na época, o juiz afirmou que o conteúdo revelava tentativas de obstruir investigações. Indagado sobre a decisão de tornar pública a conversa, ele afirma que a escolha adotada “desde o início desse processo era tornar tudo público, desde que não fosse prejudicial às investigações” e que, portanto, “o que aconteceu neste caso não foi nada diferente dos demais”, já que “as pessoas tinham direito de saber a respeito do conteúdo daqueles diálogos”.

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Um jornalista de Moçambique indagou Moro sobre seu sentimento em torno da desconstrução da imagem de Lula e da Odebrecht , antes considerados como benfeitores em seu país. A isso, o juiz apenas respondeu que “o fato de as empresas terem pagado suborno a autoridades públicas é algo reprovável, mas que isso não desmerece tudo o que já tenha feito”, esquivando-se a comentar sobre o petista.

Os repórteres questionaram o juiz sobre o envolvimento de ex-presidentes e empresas em seus territórios, e de como a operação Lava Jato possa ter levantado algumas problemáticas externas. “É difícil avaliar o que ocorre em outros países, não tenho detalhes de tudo. A globalização acaba levando à transnacionalização do crime. Se é assim, o combate aos crimes também tem que ser transnacional e envolver cooperação”, disse em certo momento.

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Contudo, Sérgio Moro não quis entrar no debate sobre os “detalhes jurídicos de outros países”, mas ainda afirmou, por exemplo, sobre a possibilidade de existirem laranjas fora do Brasil, que “é um método comum na lavagem de dinheiro utilizar uma pessoa interposta [um laranja], um ‘presta nombres’, para recebimento de vantagem indevida. A variedade dos procedimentos é inesgotável”, finalizou.