Preso em fevereiro deste ano na 38ª fase da Lava Jato, operador de propinas do PMDB Jorge Luz presto depoimento
Reprodução/E-proc | Justiça Federal
Preso em fevereiro deste ano na 38ª fase da Lava Jato, operador de propinas do PMDB Jorge Luz presto depoimento

Um dos responsáveis por operacionalizar o pagamento de propina a políticos do PMDB , o lobista Jorge Luz confirmou em depoimento prestado nessa quarta-feira (19) ao juiz Sérgio Moro que repassou um total de R$ 11,5 milhões a quatro políticos do partido: os senadores Renan Calheiros (AL) e Jader Barbalho (PA), o deputado Aníbal Gomes (CE) e o ex-ministro Silas Rondeau. Os pagamentos eram comissões decorrentes da atuação do grupo político para manter os ex-diretores da Petrobras Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa em seus cargos.

Jorge Luz explicou ao juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba que o montante repassado aos políticos do PMDB  tinha como origem a Samsung Heavy Industries e o grupo Schahin, que firmaram, por meio de Paulo Roberto e Cerveró, contratos com a Petrobras para compra e operação dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitória 10.000. Segundo o operador, no entanto, para os políticos, a origem do dinheiro "não importava".

"Para os políticos não importava de onde vinha. Para eles tanto faz. Se veio da Petrobras 10.000, da Vitória 10.000... Não importa", disse Jorge Luz a Moro.

O depoimento foi prestado no âmbito de ação penal da Operação Lava Jato em que são réus o próprio operador de propinas, seu filho Bruno Luz e mais sete pessoas. Jorge e Bruno Luz estão presos preventivamente desde fevereiro deste ano  no Complexo Médico Penal, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.

Jorge explicou a Moro que procurou os políticos após ficar sabendo por meio do lobista Fernando Baiano que os então diretores Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Nestor Cerveró (Internacional) estavam "balançando" na Petrobras.

"Ele [Baiano] viu em mim uma pessoa que poderia aproximá-lo do PMDB. Eu conhecia Jader e Renan e tinha sido apresentado ao deputado Aníbal Gomes. Eu contatei primeiro o Aníbal e ele foi conversar com o Renan, o Jader e o Silas. Eles estavam dispostos a prestigiar a manutenção dos dois diretores", disse Luz.

O operador de propinas disse ter apresentado Fernando Baiano ao deputado Aníbal Gomes, que se responsabilizou a repassar aos demais políticos os valores combinados. "O acordo se traduziria em uma ajuda financeira e oportunidade para que esses políticos viessem a participar de algumas operações que viessem a surgir no decorrer do tempo."

Esses pagamentos tinham como origem acordo firmado previamente por Baiano, a Sambung e o empresário Júlio Camargo, por volta de 2006. Tempos depois, no entanto, houve um "desgaste" entre o peemedebista e o lobista devido a atrasos nos pagamentos, ocasião na qual o próprio Jorge Luz teria passado a atuar como intermediário da propina.

Os repasses foram realizados, segundo o depoente, em várias parcelas por meio de contas administradas por Juilo Camargo. Jorge Luz contou que ele mesmo fez transferências de valores uma conta no exterior chamada Headliner que foi indicada por Aníbal Gomes. O responsável pelas finanças do esquema seria Luiz Carlos Sá, assessor do deputado federal.

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"Não tem santo nessa história"

Jorge explicou que, posteriormente, em 2009, o grupo Schahin tentava encontrar meios para faturar uma fatia dos contratos que envolviam o navio-sonda Vitória 10.000. 

"Fui na Schahin, conversei com o Sandro Tordin e fiz acordo com ele. Resolveram me cutucar e eu aceitei. Eu vi no processo [ação penal] que se fala que não teve pagamento de propina na Vitória 10.000. Teve e eu participei. E eu paguei ao PMDB", esclareceu Luz. 

"Não tem santo nessa história. Intermediei os benefícios para os políticos do PMDB.  O Fernando [Baiano] repassou aos agentes da petrobras. Mas os R$ 11,5 milhões foram exclusivamente para os políticos. Jader, Renan, Aníbal e Silas, esses são os agentes políticos", enfatizou o operador.

Defesa

À época da deflagração da 38ª fase da Lava Jato, que culminou na prisão de Jorge e Bruno Luz, o senador Renan Calheiros divulgou nota negando as acusações, apesar de confirmar que conhece o operador, mas que não o vê há 25 anos. 

"O senador Renan Calheiros reafirma que a chance de se encontrar qualquer irregularidade em suas contas pessoais ou eleitorais é zero. O senador reitera ainda que todas as suas relações com empresas, diretores ou outros investigados não ultrapassaram os limites institucionais", diz o comunicado distribuído pelo peemedebista.

O senador Jader Barbalho também rechaçou a informação de que participou de um jantar com Nestor Cerveró e Jorge Luz para tratar do pagamento de propina.

O deputado Aníbal Gomes e o ex-ministro Silas Rondeau não se manifestaram a respeito das acusações.

De acordo com a denúncia oferecida pela força-tarefa de procuradores da Lava Jato, Jorge Luz e Bruno Luz movimentaram cerca de US$ 40 milhões em propina, incluindo nesse montante o valor repassado aos políticos do PMDB.

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