Janot vê "articulação de Aécio com Temer" para barrar Lava Jato

Em avaliação enviada ao STF, Janot diz que tucano usou "medidas legislativas e controle da indicação de delegados" para impedir avanço das investigações

Aécio Neves articulou para impedir avanço da Lava Jato em esquema que envolvia Michel Temer, afirma Rodrigo Janot
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Aécio Neves articulou para impedir avanço da Lava Jato em esquema que envolvia Michel Temer, afirma Rodrigo Janot

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) que há "articulação" do senador Aécio Neves (PSDB) com o presidente Michel Temer para "impedir que as investigações da Lava Jato avancem". A afirmação de Janot consta do pedido de abertura de inquérito contra Aécio, Temer e o deputado Rocha Loures  (PMDB-PR), aceita nesta quinta-feira (18) pelo ministro Edson Fachin, relator dos processos da Lava Jato no Supremo.

Com base na delação do empresário Joesley Batista e das provas colhidas durante a negociação de acordo com os sócios da JBS, Janot  afirma que "alguns políticos continuam a utilizar a estrutura partidária e o cargo para cometerem crimes em prejuízo do Estado e da sociedade". 

O procurador-geral da República relata que Aécio "teria tentado organizar uma forma de impedir que as investigações avançassem, por meio da escolha dos delegados que conduziriam os inquéritos" contra a classe política. A ideia envolvia o presidente Michel Temer e o ministro do STF Alexandre de Moraes, ex-afiliado do PSDB, mas "não teria sido finalizada", segundo o chefe do Ministério Público Federal.

A afirmação se baseia em conversa gravada entre o presidente nacional do PSDB e Joesley Batista  em março deste ano no Hotel Unique, em São Paulo. 

"O que vai acontecer agora, vai vir inquérito sobre uma porrada de gente, caralho, eles aqui são tão bunda mole que eles não notaram o cara que vai distribuir os inquéritos para os delegados", diz o senador, referindo-se a Alexandre de Moraes. 

"Você tem lá, sei lá, dois mil delegados da Polícia Federal, aí tem que escolher dez caras. O do Moreira, o que interessa ele, sei lá, vai pro João. O do Aécio vai pro Zé. O outro filho da puta vai pro, foda-se, vai para o Marculino, nem isso conseguiram terminar. Eu, o Alexandre e o Michel", conclui o até então presidente nacional do PSDB, mencionando nominalmente o ministro do STF Alexandre de Moraes e o presidente Michel Temer.

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Outro lado

Em nota, a assessoria de Aécio negou que o tucano tenha praticado "qualquer ato que possa ter colocado qualquer empecilho aos avanços da Operação Lava Jato". A equipe do senador explica que ele apenas "emitiu uma opinião em face da demora da conclusão de alguns inquéritos".

"O senador Aécio Neves jamais agiu ou conversou com quem quer que seja no sentido de criar qualquer tipo de empecilho à Operação Lava Jato ou à Polícia Federal, que sempre teve seu trabalho e autonomia apoiados pelo senador em suas agendas legislativas, e também como dirigente partidário", diz o texto enviado pelo tucano.

No pedido de abertura de inquérito aceito por Fachin, Janot enxerga suspeita de crime de corrupção passiva por parte de Aécio Neves, de sua irmã, Andrea, e do deputado afastado Rocha Loures, que foi gravado recebendo uma mala com R$ 500 mil.

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Confira o codumento enviado ao STF e as declarações de Janot (a partir da p. 142):