Após depoimento, Lula diz que quer ser julgado pelo "povo brasileiro"

"Se um dia eu tiver que mentir, eu prefiro que um ônibus me atropele em qualquer rua deste País", afirmou o petista durante discurso em Curitiba

Lula caminhou com manifestantes na chegada à sede da Justiça Federal em Curitiba, onde prestou depoimento
Foto: Ricardo Stuckert - 10.5.17
Lula caminhou com manifestantes na chegada à sede da Justiça Federal em Curitiba, onde prestou depoimento

Após prestar depoimento ao juiz Sérgio Moro, responsável pelas ações penais da Operação Lava Jato  em primeira instância, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso inflamado aos seus apoiadores em Curitiba. O petista voltou a criticar a atuação da Justiça e disse ser perseguido por opositores.

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Lula garantiu ser inocente no processo que apura a suposta doação de um tríplex no Guarujá (SP), que teria sido feita pela empreiteira OAS em troca de favores no governo federal. “Eu só posso dizer a vocês que, se um dia eu tiver que mentir, eu prefiro que um ônibus me atropele em qualquer rua deste País. Eu jamais poderia mentir para as pessoas que me apoiam."

O petista falou novamente sobre o pedido que havia feito à Justiça - e que foi rejeitado - para que o depoimento fosse transmitido ao vivo. "Minha mãe nasceu e morreu analfabeta. Mas ela dizia que a gente conhece quando alguém está falando a verdade não pela boca, mas pelos olhos. Eu queria que vissem os olhos de quem estava perguntando e de quem estava respondendo."

O ex-presidente chegou por volta das 19h30 ao local montado para seu discurso, na praça Santos Andrade, no centro de Curitiba. Antes de subir ao palanque, foi feita uma inspeção de segurança no palco, para que ele e Dilma Rousseff pudessem, finalmente, falar à população, que aguardava em massa no local.

Foto: Reprodução
Os ex-presidentes Lula e Dilma fizeram discurso após depoimento ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba

Lula agradeceu à militância pela presença no discurso. "Eu já participei de muitas manifestações. Eu já participei de manifestações com um milhão de pessoas, 500 mil pessoas. Mas é gratificante saber que vocês confiam em alguém que está sendo massacrado pela acusação.

Críticas à Justiça

Mais uma vez, o ex-presidente criticou os integramtes do Poder Judiciário no Brasil. "Eu preciso tomar cuidado com o que eu falo por que eles [da Justiça] andam me acompanhando. Eu queria dizer para vocês: se um dia eu tiver cometido um erro eu não quero ser julgado apenas pela Justiça. Quero antes ser julgado pelo povo brasileiro."

"Hoje eu pensei que meus acusadores iriam mostrar uma escritura, um documento, um pagamento, alguma coisa que eu fiz para ter o tal do apartamento que eles dizem que é meu", ironizou. "Não quero ser julgado por interpretações, quero ser julgado por provas", acrescentou.

Apesar das críticas, entretanto, Lula garantiu que prestará depoimentos à Justiça "quantas vezes forem necessárias" para que todos os esclarecimentos sejam prestados. As falas do ex-presidente foram acompanhadas de gritos eufóricos por parte da militância, que pediam a volta dele ao poder.

Dilma

A ex-presidente criticou as mudanças de proteção ao trabalho, dizendo que “nem na ditadura militar ousaram tirar os direitos dos trabalhadores”, chamando as novas reformas da Previdência de “retrocesso”. 

Dilma reiterou o discurso de que o processo de impeachment que a tirou do poder, no ano passado, foi um "golpe".  "Para fazer este estrago que hoje estão fazendo, tinham que dar um golpe. Querem inviabilizar as condições de cidadania para que nosso querido ex-presidente Lula se coloque mais uma vez para ser votado ou não pelo povo brasileiro. Perder eleição não é vergonha. Só é vergonha para golpista."

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Por fim, Dilma ressaltou que Lula é uma "liderança importante no nosso País e "que vai derrotar esse retrocesso que hoje o governo golpista está fazendo em Brasília a portas fechadas". A ex-presidente também foi ovacionada e ouviu gritos de "volta, Dilma" e "Dilma, eu te amo".

Audiência

A audiência que atravessou a tarde e o início da noite desta quarta-feira na sede da Justiça Federal marcou a primeira vez em que Lula e Sérgio Moro ficaram frente a frente. O petista já havia prestado depoimento ao magistrado em março do ano passado, no episódio em que foi conduzido coercitivamente, mas na ocasião a audiência se deu por videoconferência.

Do lado de fora da sede da Justiça Federal na capital paranaense, foi armado um forte esquema de segurança para evitar tumultos e centenas de manifestantes pró-Lula se reuniram  em atos de apoio ao petista. Também houve atos de apoio a Sérgio Moro e à Operação Lava Jato – estes com mais ênfase nas redes sociais.

Lula chegou ao local da audiência acompanhado por uma comitiva integrada pela ex-presidente Dilma Rousseff, pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão, e por lideranças de movimentos sociais e por parlamentares do Partido dos Trabalhadores.

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