Parte de propina de US$ 40 milhões foi repassada a senadores do PMDB, diz MPF

Acusação é baseada em depoimento de Fernando Baiano, segundo o qual Renan Calheiros e Jader Barbalho teriam negociado doação para campanhas com operadores Jorge Luz e Bruno Luz, alvos da nova fase da Lava Jato

Em nota, senador Renan Calheiros reconheceu relação com Jorge Luz, mas negou tratativas sobre pagamento de propina
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil - 6.12.2016
Em nota, senador Renan Calheiros reconheceu relação com Jorge Luz, mas negou tratativas sobre pagamento de propina

Alvos da 38ª fase da Lava Jato, deflagrada na manhã desta quinta-feira (23) , os operadores Jorge Luz e Bruno Luz teriam repassado ao menos US$ 6 milhões a campanhas do PMDB a pedido dos senadores Renan Calheiros (AL) e Jader Barbalho (PA), segundo a força-tarefa de procuradores da Lava Jato.

De acordo com a denúncia recebida pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, o montante é apenas parte dos cerca de US$ 40 milhões que os dois operadores teriam movimentado durante a atuação deles no esquema criminoso junto à Petrobras.

O pagamento de US$ 6 milhões aos dois senadores foi relatado em depoimento do lobista Fernando Baiano, delator da Lava Jato , ao Ministério Público Federal. A informação também foi confirmada pelo ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró.

Segundo as delações, Cerveró teria intermediado um encontro em Brasília entre o operador Jorge Luz e os senadores Renan Calheiros e Jader Barbalho. O jantar também teria contado com a participação do ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT).

"Nestor Cerveró disse que os políticos aceitaram o nome de Jorge Luz como intermediário do pagamento, mas que o valor deveria ser de US$ 6 milhões", relata Baiano. "Este valor seria dividido entre os políticos mencionados, em percentual que o depoente [Fernando Baiano] não conhece. Todos os pagamentos feitos a políticos foram por intermédio de Jorge Luz, que fez com que o dinheiro chegasse a todos os políticos indicados, seja do PT ou do PMDB. O depoente pediu para Cerveró confirmar com os políticos o recebimento dos valores e isto ocorreu em um jantar em Brasília", diz Fernando Baiano.

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De acordo com a força-tarefa da Lava Jato, o operador de propinas Jorge Luz e seu filho, Bruno Luz, teriam intermediado o pagamento de propinas em ao menos cinco contratos da Petrobras, além de terem praticado lavagem de dinheiro em um sexto episódio.

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa também declarou, em depoimento prestado em seu acordo de delação premiada, que uma empresa contratada para fornecer asfalto para a Petrobras em 2008 pagou comissão de US$ 192 mil a ele e de R$ 400 mil a Jorge Luz. Parte dessa propina paga ao operador teria sido repassada ao então deputado federal Cândido Vacarezza (PT-SP).

Operação BlackOut

Jorge Luz e seu filho Bruno são acusados pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Segundo o MPF, a dupla intermediava propina "de forma profissional e reiterada" nas diretorias Internacional, de Serviço e de Abastecimento da Petrobras. 

Os dois tiveram o pedido de prisão preventiva expedido pelo juiz Moro, mas seguem foragidos da Justiça. A Polícia Federal acredita que a dupla esteja no exterior. Tendo isso em vista, o juiz Moro decidiu pedir a inclusão dos nomes de Jorge e Bruno Luz na lista de procurados da Interpol.

"Autorizo, diante dos indícios de que se evadiram ao exterior, a inclusão dos mandados de prisão de Jorge Luz e de Bruno Luz na difusão vermelha da Interpol, assumindo este Juízo o
compromisso de solicitar a extradição caso presos no exterior", escreveu o juiz da Lava Jato em seu despacho.

Também figura como alvo da nova fase da Lava Jato um terceiro operador, Apolo Santana Vieira. Conforme a denúncia, Apolo teria mantido conta no exterior que repassou ao menos US$ 5 milhões em propinas acertadas nos contratos de fornecimento de navios-sondas à Petrobras. Apolo também teve o pedido de prisão expedido por Moro, mas a decisão foi revogada uma vez que o magistrado teve conhecimento de que o operador negocia um acordo com o Ministério Público.

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Defesa

Em nota, o senador Renan Calheiros negou as acusações e disse que, apesar de conhecer o operador Jorge Luz, eles não se encontram há 25 anos. 

"O senador Renan Calheiros reafirma que a chance de se encontrar qualquer irregularidade em suas contas pessoais ou eleitorais é zero. O senador reitera ainda que todas as suas relações com empresas, diretores ou outros investigados não ultrapassaram os limites institucionais", diz o comunicado distribuído pelo peemedebista.

O senador Jader Barbalho também rechaçou a informação de que participou de um jantar com Nestor Cerveró e Jorge Luz para tratar do pagamento de propina.