O motorista de entregas brasileiro, Caio Benicio, deteve o homem que esfaqueou três crianças e dois adultos em Dublin, na Irlanda, nessa quinta-feira (23). "Não foi uma decisão que tomei, foi puro instinto, tudo acabou em segundos", disse à imprensa local. "Ele [o agressor] caiu no chão, eu nem vi onde foi a faca, e outras pessoas interviram".
Uma menina de cinco anos e uma mulher de 30 sofreram ferimentos graves. Outras duas crianças, um menino de cinco anos e uma menina de seis, sofreram ferimentos leves. O esfaqueamento ocorreu na Parnell Square, movimentada rua de Dublin, na saída do colégio Gaelscoil Choláiste Mhuire.
Benicio é ex-dono de restaurante e se mudou para a Irlanda após um incêndio destruir seu estabelecimento. Seus dois filhos ainda residem no Brasil. Ao presenciar o ataque, o entregador retirou o capacete e foi de encontro ao agressor. "Fiz o que qualquer um faria", afirmou. "Eu mesmo tenho dois filhos, então tive que fazer alguma coisa".
Ele lembrou do ocorrido e prestou solidariedade às vítimas: "Estou rezando, é só nisso que penso. Eu vi [a menina de cinco anos] na ambulância, ela parecia tão vulnerável. Estou aguardando notícias sobre ela. Estou esperando”.
Refletindo sobre a possibilidade de ter agido mais rapidamente, Benicio mencionou uma cirurgia recente no joelho que teria o deixado mais lento. "Se uma criança não sobreviver, vou pensar que poderia ter sido mais rápido", disse. "Eu poderia ter sido mais rápido?". No entanto, Benicio afirmou que ficará grato se todas as vítimas sobreviverem, por estar "no lugar certo, na hora certa".
Após o ataque, Dublin testemunhou protestos violentos anti-imigração, sugerindo que o agressor era argelino. Autoridades irlandesas não confirmaram essa hipótese, mas mantiveram a possibilidade de motivação terrorista. Benicio comentou sobre o ódio aos imigrantes na Irlanda, observando as manifestações: "Parece que eles odeiam os imigrantes... mas, bem, eu sou um imigrante e fiz o que pude para tentar salvar aquela menina".
O comissário da polícia irlandesa, Drew Harris, condenou o ataque, que chamou de "crime terrível", e apontou para a influência de ideologias extremistas e das redes sociais para desencadear o caos. "O que vimos ontem à noite foi um extraordinário surto de violência", afirmou.
Apesar do baixo índice de protestos violentos em Dublin e da ausência de políticos radicais no Parlamento, manifestações anti-imigrantes e xenofóbicas têm crescido na região nos últimos meses. "Temos visto um elemento de radicalização que é perturbador para a nossa sociedade", disse Harris. "Temos que presumir que veremos mais protestos desse tipo".