Presidente Xi Jinping
Agência Brasil
Presidente Xi Jinping

O presidente chinês, Xi Jinping, iniciou nesta quinta-feira uma visita de dois dias a Hong Kong, em sua primeira viagem para fora da China continental em quase 30 meses, para as celebrações dos 25 anos da devolução da cidade pelo Reino Unido, do qual foi colônia por 156 anos.

A visita busca ressaltar o controle chinês sobre o território, após uma série de medidas repressivas que encerraram um ciclo de violentos protestos anti-Pequim.

Xi, acompanhado pela primeira-dama, Peng Liyuan, desembarcou na estação de Kowloon Oeste, onde foi recebido por alunos de escolas locais, faixas patrióticas exaltando valores defendidos pelo governo de Pequim e buquês de flores. Em um curto discurso, disse que Hong Kong “renasceu das cinzas” após uma série de desafios nos últimos anos.

"Hong Kong resistiu a um grave desafio atrás do outro, e superou um perigo após o outro", declarou, ainda na estação ferroviária. "Depois da tempestade, Hong Kong renasceu das cinzas, mostrando uma vitalidade que floresce."

Ele mencionou sua última visita a Hong Kong, em 2017, quando disse que os desafios à soberania de Pequim eram inadmissíveis, se referindo a reivindicações de maior autonomia feitas manifestantes e políticos pró-democracia.

Em seu discurso, Xi exaltou o modelo “um país, dois sistemas”, afirmando que ele garante a estabilidade e a autonomia de Hong Kong. O modelo, que segundo o acordo de devolução feito com o governo britânico deve reger Hong Kong por 50 anos, até 2047, prevê que a cidade mantenha autonomia política, judicial e administrativa em relação a Pequim.

No entanto, os opositores em Hong Kong consideram que o modelo foi violado pela Lei de Segurança Nacional imposta pelo governo chinês em 2020 e pela reforma eleitoral feita em 2021 que afastaram dissidentes do Legislativo local e praticamente eliminaram a possibilidade de que o chefe do Executivo da cidade venha a ser eleito pelo voto direto — o que era uma expectativa do campo democrático e uma das reivindicações do ciclo de protestos iniciado em 2014 e que teve seu auge em 2019.

Na plateia, além da atual chefe do Executivo, Carrie Lam, estava o sucessor dela no cargo, John Lee, ex-secretário de Segurança de Hong Kong, além de alguns convidados selecionados.

Em maio, Lee foi escolhido para dirigir a cidade por uma comissão integrada por nomes majoritariamente pró-Pequim. A estação foi fechada ao público, e um pesado esquema de segurança foi adotado.

"Espero que vocês apoiem o novo chefe do Executivo e o novo governo ao atuarem de acordo com a lei, trabalhando com pessoas de todos os setores para que sejam feitas novas contribuições à contínua e longa implementação do [conceito de] um país, dois sistemas", declarou Xi.

O ponto alto da visita é a celebração dos 25 anos da devolução do território de Hong Kong para a China, colocando fim ao domínio britânico, mas uma nova onda de casos de Covid-19 levou a algumas mudanças de planos.
Um banquete previsto para essa quinta-feira foi cancelado por preocupações com o vírus, e o presidente ficará hospedado na vizinha Shenzhen. Todos os convidados e as mais de três mil pessoas que trabalharão no evento precisaram cumprir quarentena prévia.

Presença chinesa

Como mencionado por Xi no discurso, a vida na cidade de 7,4 milhões é, hoje, bem diferente da vista por ele em sua visita, há cinco anos. A começar por um forte movimento pró-democracia, intensificado em 2019, quando ocorreram grandes protestos cobrando mais autonomia em relação a Pequim.

A resposta foi, além da dura repressão nas ruas e a prisão de líderes dos atos, foi uma série de ações do governo chinês para evitar novos questionamentos: a principal dessas medidas foi promulgada há exatos dois anos , a chamada Lei de Segurança Nacional, estabelecendo penas duras a crimes como secessão, subversão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras, que poderiam chegar à prisão perpétua.

A própria definição desses crimes foi alterada — provocar estragos ao transporte público pode ser considerado terrorismo — e foram abertos mecanismos que poderiam, em tese, levar réus para que fossem julgados por cortes chinesas.

O chefe de segurança indicado por Pequim para aplicar a nova legislação, Zheng Yanxiong, estava entre os convidados para a recepção inicial em Kowloon. Ele também ajudou a elaborar o texto. O novo chefe do Executivo, John Lee, liderou a repressão aos protestos em 2019.

Outro dos desafios mencionados pelo presidente foi a pandemia da Covid-19. A China adota uma política de “Covid zero”, marcada por grandes restrições a movimentações dentro do país e, especialmente, para o exterior, e que, no caso de Xi, significou uma interrupção de suas viagens internacionais por cerca de 900 dias.

A própria decisão do presidente de visitar a ilha em meio a uma nova onda de casos, que levou ao retorno de medidas de controle em locais públicos, é apontado ainda como um forte sinal de como ele vê Hong Kong como um dos principais temas de sua agenda política, e de que Pequim está disposta a mostrar que está presente ali.

Ainda mais no momento das celebrações dos 25 anos da passagem da cidade para a China.

"É muito simbólico que o presidente da China venha a Hong Kong para celebrar esse aniversário de 25 anos", afirmou, à Bloomberg, Tommy Wu, economista especializado em China na consultoria Oxford Economics.

"São Hong Kong e China dizendo ao resto do mundo que Hong Kong é um centro internacional, financeiro e de negócios na Ásia, com o apoio do Partido Comunista Chinês."

Alguns desses pontos devem estar presentes na fala de Xi na sexta-feira.

"Por um lado, Pequim quer incorporar Hong Kong em seu plano de desenvolvimento da Área da Grande Baía [Cantão-Hong Kong-Macau]. Mas, ao mesmo tempo, precisa permitir que Hong Kong mantenha algum grau de autonomia para fortalecer sua credibilidade para o público internacional", disse à Bloomberg Vivian Zhan, professora especializada em Política Chinesa na Universidade Chinesa de Hong Kong.

"É uma tarefa complicada diante do que ocorreu nos últimos anos e da preocupação internacional com o Estado de direito, independência do Judiciário e elaboração de políticas."

Analistas também lembram que os 25 anos marcam a “metade do caminho” do compromisso firmado entre chineses e britânicos à ocasião da passagem de controle, quando Pequim se comprometeu a manter as instituições liberais e a economia de mercado até 2047.

Com ruas fechadas, protestos banidos e uma zona de exclusão aérea sobre a cidade, uma das maiores preocupações dos organizadores da cerimônia é a possível passagem de um tufão, o Chaba, que pode provocar ventos fortes e chuvas nas próximas horas.

Entre no  canal do Último Segundo no Telegram e veja as principais notícias do dia no Brasil e no Mundo.  Siga também o  perfil geral do Portal iG.

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!