Olaf Scholz, indicado pelos social-democratas para ser o novo chanceler da Alemanha
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Olaf Scholz, indicado pelos social-democratas para ser o novo chanceler da Alemanha

O Partido Social-Democrata (SPD) venceu por margem estreita as eleições gerais deste domingo (26) na Alemanha , as primeiras depois do anúncio da aposentadoria da chanceler Angela Merkel, de acordo com projeções baseadas na apuração dos votos.

A sigla, agora a mais cotada para liderar o país pelos próximos anos, teve um avanço considerável em relação às eleições de 2017, ao mesmo tempo em que a União Democrata Cristã (CDU), de Merkel, sofreu uma dura derrota, embora ainda reivindique estar à frente do próximo governo de coalizão.

Pelas projeções das redes ARD e ZDF, o SPD obteve entre 25,2% e 25,7% dos votos, cerca de cinco pontos percentuais a mais do que na eleição anterior, em 2017. Já a CDU, com entre 24,5% e 24,6%, perdeu ao menos oito pontos percentuais em comparação com cinco anos atrás.

Os Verdes terão entre 13,8% e 14,4%, com um crescimento de cinco pontos em média, e os liberais do Partido Democrático Liberal (FDP) também cresceram, cerca de um ponto, devendo chegar a 11,7% dos votos. Com isso, essas duas siglas devem atuar como fiéis da balança nas negociações para a formação de uma nova coalizão governista que tenha maioria parlamentar.

Já a extrema direita da Alternativa para a Alemanha (AfD) teve entre 10,7% e 10,9%, perdendo quase dois pontos percentuais. No oposto do espectro político, A Esquerda, com 5% dos votos, perdeu 4,2 pontos e ainda corre o risco de não superar a cláusula de barreira para entrar no Parlamento, justamente de 5%.

Os números confirmam a tendência mostrada pelas pesquisas pré-eleitorais, com o SPD à frente. O partido não lidera um governo na Alemanha desde o chanceler Gerhard Schröder, entre 1998 e 2005, ano em que Merkel assumiu o poder. Hoje, os social-democratas fazem parte do governo com a CDU da chanceler, na chamada "grande coalizão", e seu candidato a comandar o novo Gabinete é Olaf Scholz, atual ministro das Finanças, conhecido como "a máquina" por seu estilo sem arroubos — ao que, aliás, sua popularidade é creditada.

"Esta será uma longa noite eleitoral, isso é certo. Mas também é certo que muitos escolheram o SPD porque querem que o novo chanceler da Alemanha se chame Olaf Scholz", disse o o líder social-democrata em seu discurso a apoiadores, em Berlim. "Dizemos que queremos mais respeito nessa sociedade, para garantir a modernização industrial e parar a mudança climática."

A derrota sofrida pela CDU de Merkel e seu partido irmão do estado da Baviera, a União Social-Cristã (CSU), foi dura. O resultado projetado é o pior para o bloco conservador desde a Segunda Guerra Mundial. O resultado é em boa parte creditado à baixa popularidade do candidaro do partido, Armin Laschet, que é governador do estado da Renânia do Norte-Vestfália, o mais atingido pelas enchentes que mataram 180 pessoas no país em julho.

Sem convencer os eleitores de que seria um chanceler confiável, Laschet patinou nas pesquisas e ficou marcado mais pelas gafes do que pelas propostas. Na última delas, durante a votação, ele dobrou de forma errada sua cédula, e revelou em quem estava votando. Após o fechamento das urnas, porém, ele disse ter legitimidade para comandar o governo.

"Parece que, pela primeira vez, teremos um governo alemão com três parceiros de coalizão, e nós da CDU recebemos um mandato claro de nossos eleitores: um voto na CDU é um voto contra um governo de esquerda", afirmou Laschet, em declarações aos eleitores.

Possibilidades

Como nenhum partido obteve a maioria, algo praticamente impossível dentro do sistema eleitoral alemão, as siglas precisarão se aliar para formar uma coalizão, um processo que pode levar de semanas a meses. Há uma preocupação com uma possível paralisia do governo neste período de negociações, afetando o papel de liderança da Alemanha na União Europeia em um momento de definições de políticas fiscais e de tensões diplomáticas que demandam ações rápidas. Por isso, os social-democratas e os conservadores defendem que o novo Gabinete saia até o Natal.

Segundo analistas, o novo governo deve ser formado por três partidos, algo que não era visto desde os anos 1950. Os Verdes, que saem da eleição como a terceira força política, serão decisivos, e já começaram as conversas.

"Queremos liderar o país, mas ainda temos um mandato claro para que o Partido Verde leve adiante seus planos para o país no próximo governo", declarou a líder da sigla, Annalena Baerbock.

De acordo com a consultoria Eurasia, a configuração mais provável é a chamada “semáforo”, com a participação do SPD, dos Verdes e do FDP — o nome é uma referência às cores das três siglas, vermelho, amarelo e verde. Embora os três partidos precisem resolver divergências, as primeiras declarações  parecem sinalizar para um acordo no futuro.

"O que une os Verdes e o FDP é que os dois conduziram campanhas independentes, os dois se opuseram, de perspectivas diferentes, ao status quo da atual coalizão [entre SPD e CDU]", declarou o líder do FDP, Christian Lindner. "Por isso não pode mais haver um “mais do mesmo” na Alemanha. Agora é hora de um novo começo."

Existe também a chance de uma coalizão “Jamaica”, formada pela CDU, pelos Verdes e pelo FDP, mas as diferenças em temas como defesa e meio ambiente podem inviabilizar um acerto.

Modelos menos prováveis

Há ainda outras possibilidades de coalizão, cujas chances de prosperar são pequenas. A primeira é a repetição do atual formato de governo, a “grande coalizão” formada por SPD e CDU, com a eventual participação dos Verdes.

Contudo, as muitas divergências entre as duas maiores forças políticas da Alemanha se acentuaram desde a eleição de 2017, e em diversas ocasiões as lideranças dos social-democratas afirmaram que “jamais trabalhariam juntos novamente” com os conservadores — vale ressaltar que declarações similares foram feitas e quebradas em 2017.

Por fim, há ainda um cenário remoto, o da coalizão “vermelho-vermelho-verde”, em que os social-democratas governariam com os Verdes e com A Esquerda, que sofreu grandes perdas em relação a 2017 e se vê ameaçada pela cláusula de barreira.  


Entre as muitas dúvidas sobre o desfecho da eleição, um deles parece certo: a perda de força da AfD, grande surpresa das eleições de 2017, quando se tornou a terceira força do Parlamento. Segundo os resultados preliminares, a sigla deve ficar abaixo do patamar de 11% dos votos, sendo rebaixada ao posto de quinta força parlamentar, e essencialmente afastada de todas possibilidades de coalizão.

Durante a campanha, o partido enfrentou disputas internas, que dividiram e afastaram eleitores, e viu algumas de suas bandeiras principais, como a imigração, perderem espaço para temas como o meio ambiente e, mais recentemente, a pandemia do novo coronavírus, quando algumas posturas negacionistas do partido foram malvistas pela população.

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