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Cada vez mais isolado, o governo venezuelano busca formas de se garantir internamente e afastar o risco de novas sanções internacionais. Atualmente, a estratégia tem um nome: Héctor Rodríguez, 37 anos, governador do estado de Miranda, o segundo mais populoso do país.

Ele tem se destacado nas negociações com a oposição mediadas pela Noruega — primeiro, em Oslo, e  atualmente em Barbados, no Caribe —, que visam romper o impasse e achar uma solução para a crise. Tudo indica que Héctor Rodríguez está sendo preparado para a eventual sucessão de Nicolás Maduro se novas eleições se tornarem inevitáveis pelas tratativas em curso. Ele tem diversas características para isso. É jovem e carismático. Moderado, sabe dialogar com a oposição, pregando a conciliação, na contramão da prática das lideranças bolivarianas. Pelo seu perfil, também é um contraponto ao líder da oposição, Juan Guaidó — os dois são da mesma geração.

Héctor Rodríguez ao lado do presidente venezuelano, Nicolás Maduro
Reprodução/Twitter - @HectoRodriguez
Héctor Rodríguez ao lado do presidente venezuelano, Nicolás Maduro



Rodríguez nasceu em Río Chico, uma cidade costeira modesta no Nordeste do país. Destacou-se como líder estudantil na Universidade Central, onde se formou em Direito, e ganhou os holofotes em 2007 com discursos inflamados durante uma onda de protestos, quando se posicionou contra estudantes depois do fechamento do canal RCTV.

Com apenas 26 anos, caiu nas graças de Hugo Chávez e foi indicado para a chefia de seu gabinete. Na época, já era considerado um herdeiro político pelo próprio ditador. Teve papel de destaque desde então e se manteve como membro de confiança de Maduro. A sua trajetória é de um apparatchik dedicado. Maduro o escolheu para ministro da Juventude e, depois, da Educação. Rodríguez também chefiou o ministério de Esporte, e todas essas pastas são importantes para o recrutamento de apoiadores e para a propaganda do regime. Em 2017, ele foi escalado para competir com o líder opositor Henrique Capriles nas eleições para o governo de Miranda, elegendo-se com uma margem de 6% em um pleito considerado fraudulento.

Héctor Rodríguez é um tipo diferente de chavista, pode-se dizer que se trata de sua face mais moderna. Ao invés de desfilar com fardas ou na companhia de militares, no modelo castrista, é vaidoso e procura projetar a imagem de um gerenciador dinâmico e competente. Aumentou o efetivo policial de seu estado, que tem a segunda maior taxa de mortes violentas no país, e recebeu elogios até da oposição. Mas a realidade se impõe. Quase 11% das crianças com cinco anos ou menos na região sofrem de desnutrição aguda.

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Disputa entre líderes

Héctor Rodríguez caiu nas graças de Hugo Chávez ainda jovem e hoje é nome de confiança de Maduro
Reprodução/Twitter - @HectoRodriguez
Héctor Rodríguez caiu nas graças de Hugo Chávez ainda jovem e hoje é nome de confiança de Maduro

Uma possível transição terá que superar líderes tradicionais bolivarianos. Um deles é Diosdado Cabello, que dirige a Assembleia Nacional Constituinte, criada em 2017 para driblar a vitória oposicionista nas eleições legislativas. Outro nome consagrado é Tareck El Aissami, ministro da Indústria. Os dois são problemáticos numa eventual sucessão: além de impopulares, são acusados de crimes como tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Sobre seu novo papel, Rodríguez tenta evitar a superexposição. Disse que os rumores sobre a candidatura presidencial “são parte da agenda de comunicação da oposição para se desviar de alguns temas, acreditando com isso que dividirá o chavismo”.

Nesse compasso de espera, a situação da Venezuela se agrava. Até o momento, quatro milhões de habitantes já deixaram o país, e a economia deve encolher mais 25% nesse ano depois de ter sofrido uma contração de 18% em 2018, segundo o Fundo Monetário Internacional. Para 2020, a projeção é de um novo recuo de 10%. A hiperinflação ronda uma cifra estratosférica: 10.000.000%.

Após impor a devastação econômica e o drama humanitário e social, o governo sofre um cerco crescente da comunidade internacional em função das violações dos direitos humanos. Relatório da ONU divulgado no início de julho aponta que milhares de venezuelanos foram vítimas de “tortura, maus-tratos, violência sexual, assassinatos e desaparecimento forçado” pela repressão. As Forças de Ações Especiais teriam matado 5.287 pessoas no ano passado e outras 1.569 até maio de 2019. Nesse quadro dramático, é inútil tentar reavivar o chavismo e torná-lo competitivo. Não se trata de encontrar atores que possam reerguer ou perpetuar um regime desacreditado, mas recolocar o país no caminho da normalidade e restabelecer o Estado de Direito — ditaduras, no entanto, são sempre refratárias a isso.

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Negociações em risco

A União Europeia ameaçou impor novas sanções à Venezuela na terça-feira 16 caso não haja resultados concretos nas conversas entre governo e oposição em Barbados, no Caribe. As discussões, retomadas no dia anterior, buscam uma saída para a crise política. Uma primeira mesa-redonda fracassou em maio, na Noruega. A pressão dos europeus se segue à notícia da morte de Rafael Acosta, capitão da Marinha, que estava sob a custódia do regime. A suspeita é de ele que tenha morrido sob tortura.

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