Famílias cobram ajuda a brasileiros presos na África com uma tonelada de cocaína

Brasileiros foram contratados para levar embarcação da Bahia até a Europa, mas acabaram preso após autoridades de Cabo Verde encontrarem droga; petição de familiares alega que o trio não sabia que transportava cocaína

'Dias de glória com muita emoção com doses de surpresas', escreveu Daniel Guerra ao chegar a Cabo Verde
Foto: Arquivo pessoal/Facebook
'Dias de glória com muita emoção com doses de surpresas', escreveu Daniel Guerra ao chegar a Cabo Verde

Três brasileiros vivem um drama que já se arrasta por quatro meses no Cabo Verde, na África. Daniel Guerra, Rodrigo Dantas e Daniel Dantas estão presos desde agosto na ilha africana após terem sido flagrados com uma tonelada de cocaína escondida na embarcação em que eles viajavam. Familiares e amigos alegam que o trio não sabia que o barco estava carregado com droga, e estão pressionando o Itamaraty a ajudar os brasileiros .

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De acordo com  abaixo-assinado lançado na internet por uma amiga de Daniel Guerra, os velejadores foram contratados em agosto por uma empresa holandesa para transportar um veleiro de 72 pés de comprimento de Salvador (BA) até o porto de Açores, em Portugal.

O trio chegou ao continente africano no dia 22 de agosto, após 18 dias de travessia pelo Oceano Atlântico, e fez sua primeira parada em Mindelo (Cabo Verde) devido a um problema mecânico. "Sem dúvida, o maior desafio de minha vida. Dias de glória com muita emoção e doses de surpresas e muitos problemas com a embarcação – já esperados e inesperados", narrou Daniel por meio de sua conta no Facebook.

O jovem nascido no sul do País disse que pretendia "carimbar o passaporte, consertar o barco, surfar, tomar uma cerveja e desfrutar a cultura local" antes de seguir viagem, mas a polícia encontrou a cocaína escondida no fundo do casco do veleiro. As autoridades de Cabo Verde são acostumadas com ocorrências dessa natureza, uma vez que a ilha está na principal rota do tráfico internacional marítimo entre a América do Sul e a Europa.

Segundo a petição online dos amigos dos brasileiros (que já conta com mais de 7 mil assinaturas), a droga estava escondida sob placas de aço soldadas ao casco e revestidas com cimento.

"Os tripulantes obviamente desconheciam [a existência da droga], por ela estar localizada embaixo dos tanques de água e revestida com cimento e placas de aço. [...] Os velejadores embarcaram movidos pelo sonho de realizarem a travessia do Atlântico e adquirirem experiência, mas a viagem se tornou um pesadelo", diz o texto do abaixo-assinado.

Também amigo de Daniel, o morador de Ilhabela Beto Cadilhe disse que acompanhou a "preparação entusiasmada" do velejador e disse acreditar que o jovem foi enganado. "O Daniel sempre foi um cara simples, natural, sem ganâncias monetárias e jamais toparia ser mula de droga para transportar mais de 1.000 quilos de cocaína", afirmou Cadilhe.

Foto: Arquivo pessoal/Facebook
Conduzido por brasileiros, veleiro Rich Harvest chegou ao Cabo Verde no dia 22 de agosto

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'Mr. Fox' e resposta do Ministério das Relações Exteriores

De acordo com a petição, o proprietário do barco seria George Saul, conhecido como 'Mr. Fox', um cidadão inglês com residência em Gibraltar e Norwich, na Inglaterra. O velejador Daniel Guerra chegou a publicar uma foto ao lado do 'Mr. Fox' agradecendo pela oportunidade de fazer a travessia do Atlântico.

O texto do abaixo-assinado afirma que há um mandado de prisão emitido pela Interpol contra Mr. Fox, mas a informação não consta do site da organização policial internacional. Os amigos e familiares também alegam que há "forte pressão", que inclui até mesmo "ameaças à integrade física", para que os brasileiros assumam culpa pelo transporte da droga.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores informou que a Embaixada do Brasil em Praia, no Cabo Verde, "acompanha o caso e está em contato com as autoridades locais e com as famílias dos brasileiros para prestar a assistência consular cabível". O Itamaraty disse que não prestará informações pessoais sobre o caso "em respeito à privacidade dos brasileiros" envolvidos no episódio.

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