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Relatório aponta que autoridades conduziram mais de 300 execuções secretas na prisão de Vakilabad em 2010

Um documento preparado pelo relator da ONU sobre os direitos humanos no Irã denuncia que no país aconteceram execuções secretas de centenas de prisioneiros, destacando o crescimento dos casos de abuso dos direitos humanos na república islâmica.

Grupo de policiais iranianos mostram técnicas de artes marciais durante exercício em comemoração à Semana da Polícia
AP
Grupo de policiais iranianos mostram técnicas de artes marciais durante exercício em comemoração à Semana da Polícia

Execuções misteriosas na prisão de Vakilabad, em Mashhad, leste do Irã, ganharam destaque no relatório, feito por Ahmed Shaheed, relator especial das Nações Unidas sobre a situação humanitária do país.

O documento detalha uma série de abusos envolvendo a liberdade de expressão, violação dos direitos das mulheres e tortura de prisioneiros. Mas as informações mais impactantes estão relacionadas ao número crescente de execuções.

O documento, obtido pela AFP após ser publicado no site de Política Externa, relata que 200 execuções anunciadas oficialmente aconteceram em 2011, 83 delas - incluindo as de três prisioneiros políticos - apenas em janeiro. "Além disso, autoridades conduziram mais de 300 execuções secretas na prisão de Vakilabad em 2010".

"Oficiais de Vakilabad, violando as leis iranianas, procederam com as execuções sem o conhecimento ou a presença dos advogados ou parentes dos presos, e sem que os executados tivessem sido notificados. Também foi reportado que 146 execuções secretas aconteceram até o momento em 2011", diz o texto. Shaheed também verificou que 100 jovens estavam no corredor da morte, e que houve mais de 100 execuções esse ano motivadas por drogas.

A Human Rights Watch contabilizou 388 execuções no Irã em 2010, enquanto a Anistia Internacional divulgou a cifra de 252, classificando o país em segundo lugar no número de pessoas executadas no ano passado, atrás da China. Teerã alega que a pena de morte é essencial para manter a ordem, e que a mesma é aplicada apenas após exaustivos recursos judiciais.

Assassinato, estupro, assalto a mão armada, tráfico de drogas e adultério são crimes punidos com pena de morte no Irã.

O relatório de 21 páginas que deve ser apresentado por Shaheed essa semana na Assembleia Geral da ONU analisou 50 casos específicos. Os "autoritários governantes do Irã abusaram de seu povo por séculos; milhares morreram durante e nos momentos seguintes à revolução de 1979", frisou o site de Política Externa.

Centenas de ativistas políticos, jornalistas, estudantes, cineastas, membros de minorias religiosas e mulheres ativistas foram presos desde as eleições presidenciais de 2009, vencidas por Mahmoud Ahmadinejad, acrescentou o site.

O "Foreign Policy" recolhe também declarações do diretor da campanha internacional pelos direitos humanos no Irã, Hadi Ghaemi, que apontou "que os que foram executados na prisão de Vakilabad, em Mashhad, parecem ter sido acusados por delitos que não mereciam a pena de morte"

Ao iniciar seu mandato no início de agosto, o novo relator da ONU para o Irã pediu ao governo do país que deixasse entrar no seu território os observadores do Conselho de Direitos Humanos (CDH). Shaheed, que ainda não pôde visitar o Irã, também pediu que seu mandato fosse uma oportunidade para que o governo iraniano se comprometesse com os direitos humanos e se abrisse de uma vez à comunidade internacional.

Com AFP e EFE