Animação de Carlos Saldanha passa uma imagem cordial do brasileiro e encontra equilíbrio entre olhar estrangeiro e local
De um lado, o malandro boa-praça e afetuoso – encarnado por Zé Carioca em “Alô, Amigos” (1942), da Disney. Do outro, o criminoso frio e violento, incapaz de se relacionar com o próximo – personificado pelo Zé Pequeno de “Cidade de Deus” (2002). Ao longo de “Rio”, Saldanha tenta achar um equilíbrio entre essas duas visões, entre natureza e favela, entre bossa nova e pancadão.
Muitos anos mais tarde, o biólogo brasileiro Túlio (Rodrigo Santoro) encontra Blu e convence sua dona a levá-lo ao Rio para cruzar com a fêmea Jade (Anne Hathaway) – os dois são os últimos sobreviventes da espécie. Mas, em meio ao carnaval carioca, os pássaros são logo sequestrados por um traficante e por uma ave do mal. Enquanto tentam escapar, o mimado Blu e a destemida Jade vão tentar brigar muito – até, obviamente, se apaixonarem.

O fato de recorrer a esses estereótipos não torna “Rio” um mau filme – e nem Saldanha um mau cidadão. Porque o diretor soube brincar com eles a favor de sua obra, e não contra o país. Ele consegue achar um equilíbrio entre o olhar estrangeiro e o olhar de um local, entre o fantasioso e o real. Além disso, o cineasta “filma” muito bem o Rio, sua natureza, sua arquitetura, seu carnaval – melhor que a maioria dos filmes não-animados brasileiros. E, como já havia demonstrado em “A Era do Gelo”, Saldanha é bom de gags visuais.
O fim do filme – que envolve Túlio, Linda e o garoto favelado carioca – merecia uma análise sociológica. É quase uma proposta de rearranjo diplomático/social entre EUA e Brasil, riqueza e pobreza – uma ideia bem-intencionada, mas condescendente. Mas talvez seja levar o filme a sério demais. Mais preocupante é o fato de “Rio” ocupar mil salas de cinema a partir desta sexta-feira , deixando pouco espaço para filmes menores. É uma curiosa forma de dominação cultural: Hollywood exportando o Brasil... para o Brasil.
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