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Mistura de referências do universo pop, filme de Zack Snyder não se contenta em ser apenas entretenimento

Para fazer "Sucker Punch - Mundo Surreal", Zack Snyder se portou como um menino de 6 anos solto na loja de doces com a carteira de seu pai. Após os sucessos comerciais de "300" e "Watchmen", adaptações de histórias de outros artistas, o cineasta resolveu investir num projeto autoral. Mas as ideias eram tantas, que ele resolveu colocar tudo no mesmo filme: cabarés, nazistas, robôs, samurais, gângster, dragões, garotas de programa com roupas de colegiais... e o resultado é algo como um porco pizza do cinema pop.

A trupe principal de
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A trupe principal de "Sucker Punch - Mundo Surreal": meninas em roupas curtas e armadas até os dentes
Porco pizza, para quem não conhece, é uma curiosidade culinária do sul do país, em que ervilha, milho, pimentão, tomate, corações de galinha, linguiças, frango, mussarela e requeijão são servidos em cima de um porco inteiro assado – um banquete que, como o longa-metragem em questão, pode causar azia aos despreparados.

A trama, a princípio, é simples: após perder a mãe e ser acusada pela morte da irmã, a jovem Babydoll (Emily Browning), herdeira única de uma provável fortuna, é enviada pelo padrasto a um sanatório onde, mediante um pagamento, será lobotomizada. Como o profissional responsável pelo procedimento (Jon Hamm) vai demorar cinco dias para chegar, a jovem desenvolve um plano para escapar da intervenção cirúrgica, que após atingir o cérebro pode deixar o paciente em estado de sedação permanente.

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Presa injustamente num hospício, resta a Babydoll (Emily Browning) imaginar uma forma de escapar
Como filmar a fuga de Babydoll e suas belas amigas Sweet Pea (Abbie Cornish), Rocket (Jena Malone), Amber (Jamie Chung) e Blondie (Vanessa Hudgens) pode soar meio monótono, Snyder adotou como solução entrar na mente da protagonista, substituindo o ambiente da clínica psiquiátrica por cenários distintos, como um templo oriental, as trincheiras da Segunda Guerra e um castelo de fantasia medieval.

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Para deleite dos garotos de 14 anos, que poderão vibrar com cenas de ação protagonizadas por garotas em trajes curtos, em cada cenário mais e mais referências pop são misturadas à trama, como o animê "Dragon Ball Z" e a série setentista "As Panteras" – aliás, em cada ocasião a trupe é agenciada pelo velho sábio interpretado por Scott Glenn, um tipo de guia espiritual que sempre tem uma máxima edificante para suas pupilas antes da batalha.

Quando deixa de lado a estética dos videoclipes e a dinâmica dos videogames, em que as personagens precisam passar por fases e enfrentar "chefões" ao som de versões de "Sweet Dreams" e "Search and Destroy", Snyder falha ao tentar promover tensão com as ameaças do vilão Blue, um tipo de Wilson Grey – imortalizado como um dos principais antagonistas dos filmes d'Os Trapalhões – em início de carreira.

Apesar de conter cenas de ação minuciosamente elaboradas, não há emoção nas sequências compostas pelo cineasta – e a culpa não é dos efeitos especiais. Suas heroínas são tão poderosas que dragões e exércitos inteiros parecem não apresentar quaisquer desafios – perto das tropas inimigas de "Sucker Punch" os stormtroopers, soldados imperiais da série "Star Wars", famosos por não acertar sequer um tiro, são atiradores de elite!

Babydoll (Emily Browning) enfrenta samurai em
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Babydoll (Emily Browning) enfrenta samurai em "Sucker Punch": dinâmica de videogame misturada com animê
Se Zack Snyder fizesse tudo isso com o único intuito de divertir plateias adolescentes pelo planeta, não haveria muito que criticar em "Sucker Punch - Mundo Surreal". Porém, o cineasta joga sujo com a plateia ao tentar justificar seu porco pizza com uma mensagem séria, transformando-o num tipo de autoajuda voltado ao público nerd. É como se o menininho do primeiro parágrafo fosse tomado por um sentimento de culpa e tentasse justificar os abusos cometidos na loja de doces.

Outros cineastas, como Robert Rodriguez e John Carpenter, por exemplo, não têm problemas em entupir seus filmes com frases de efeito e gastar milhões em explosões apenas pela diversão de fazê-lo. Assumir a vocação que o longa-metragem tem para "filme pipoca" não é demérito algum, além de ser mais honesto consigo e com seu público.

Assista ao trailer de "Sucker Punch - Mundo Surreal":

Assista aos bastidores "Sucker Punch - Mundo Surreal":