Hoje saí com Miney, cachorra da minha filha, após muito tempo sem levar caninos para passear. Logo lembrei de alguns detalhes que não mudam com o passar dos anos: por que o cão se irrita loucamente com algum colega preso atrás de um portão e esbraveja com as duas patas da frente agressivamente fixadas no portão do inimigo? É mais encenação com o pelo da nuca arrepiado, do que inimizade irretratável. O paradoxo é que, na mesma rua em que fez um escândalo com um cão, ignora outro deblaterando contra ele? 

Roberto Muylaert: fim de férias

Por que será que alguns cheiros que ele detecta no terreno façam com que estanque abruptamente, dando um tranco no ser humano da outra ponta da corrente? Não há o que o tire daquele aroma que o interessou, focinho grudado no chão, inamovível.

Ao contrário do gato, que joga terra para trás para cobrir direitinho suas necessidades, o cão joga terra, pedrinhas e poeira para trás, com as quatro patas, de forma aleatória, como se cumprisse aquele gestual por obrigação, sem o sentido prático de cobrir o que obrou?

Por que será que o cachorro, após encontrar o local em que deve marcar seu território, roda, roda, roda, em círculo fechado, e só então deixa cair o seu precioso xixi, mas só um pouquinho, para ter mais munição pra frente?

Roberto Muylaert: A invasão chinesa

Se for pra fazer o número dois, então, pelo menos mais três voltas antes de se aliviar. Quando recebi a Miney com sua respectiva coleira, notei dois saquinhos de plástico presos nela. Deduzi que minha filha queria me passar a segurança de que não ficaria impossibilitado de recolher a mercadoria, mesmo em excesso.

Acontece que, logo ao sair, a cachorra fez uma vez, depois de mais uma quadra, fez d e novo. Comecei a ficar preocupado. Não deu outra, mais uma quadra e lá está ela se espremendo de novo, mais material direto ao chão. E os dois saquinhos plásticos já tinham ido. A sorte é que ela soltou o último pedaço junto a um jardinzinho.

Como o material parecia seco, olhei pros lados, não divisei nenhuma câmera, e então, com o lado de fora do meu mocassim, empurrei a coisa para o jardinzinho. Saí com culpa, olhando para o céu e assobiando, enquanto ela me seguia, indiferente à minha aflição.

Roberto Muylaert: Paulinha

Agora me diga uma coisa, você que também passeia com seu cão: por que pegar cocô quentinho dá mais nojo que o frio?

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