É de conhecimento comum que a estatística é frequentemente a primeira vítima dos embates político-ideológicos. Em tempos de campanha então... mais ainda. A tal margem de erro acaba se tornando margem de argumentação, e muitas vezes sem fundamento lógico nenhum.
Justamente por isso, tornou-se celebre o dito: "estatística é como biquíni, mostra tudo, menos o fundamental".
Fim de ano é momento de divulgação de dados, estatísticas, informações, notadamente vindas do governo e relacionadas a diversas áreas de atuação, indo de emprego, passando por investimentos e chegando no emprego e nível de pobreza.
Papel desse texto não é incensar os alegados bons feitos do governo -- até porque o próprio governo e veículos de informação a ele amistosos já fazem isso. E, como diz antigo dito jornalístico: "jornalismo bom é do contra. A favor já tem o diário oficial".
Pois bem. Vamos aos pontos frágeis que o governo, como é usual aos governos em geral, esconde, omite ou distorce. O setor público consolidado – formado por União, Estados, municípios e estatais – registrou deficit nominal de R$ 1,043 trilhão no acumulado de 12 meses até abril. O valor é recorde na série histórica, iniciada em 2002.
O déficit acumulado em 2024 é 183% maior do que o mesmo período do ano passado, quando o rombo foi de R$ 3,211 bilhões. O governo federal tenta argumentar alegando que o resultado primário não é o melhor parâmetro para avaliar empresas, que devem ser analisadas pelo lucro ou prejuízo registrado no período. Mas economia não funciona assim. Déficit é déficit. Não dá para transformar um déficit num superávit, num lucro, "a depender do ponto de vista".
Um dado muito comemorado pelo governo é a taxa de desemprego estar hoje em 6,1%, uma das menores taxas da história. É um dado objetivo, portanto, não há como negar sua existência e montante. Como, porém, é calculado esse item, desemprego? É considerado desempregado quem procurou emprego nos últimos 6 meses. Assim, beneficiários de bolsa-família, por exemplo, são considerados empregados pelo governo, eis que recebem o benefício e não estão buscando emprego. E o bolsa-família praticamente dobrou o valor do benefício de 2022 para 2023. No entanto, bastante evidente que beneficiário de bolsa-família não está empregado, não faz parte da estrutura produtiva.
Entre números e realidades, entre discursos e vidas reais, entre certezas e dúvidas, entre biquínis e estatísticas, o fato é que sempre devemos ter cautela com planilhas, dados, estatísticas, tabulações. O fundamental pode ser invisível aos olhos.
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