A dor é tanta, e tal, que não cabe no peito a agonia da hipótese da volta do autoritarismo. As notícias que chegam da Papuda – penitenciária do DF onde estão detidos 294 terroristas que tentaram subverter a ordem democrática em 8 de janeiro, numa tentativa frustrada de golpe de Estado –, são de que os fascistas ainda estão sendo tratados pelas famílias como heróis da pátria. Não caiu a ficha. Como, em regra, são indigentes, intelectualmente falando, não conseguem fazer uma análise do que ocorre no Brasil de hoje. São idiotas à deriva.
Esse é um drama a ser estudado e enfrentado. Os fascistas presos foram os peixes pequenos, mas não podem ser tratados como simples massa de manobra. Afinal, se o golpe tivesse sido exitoso, nós é que estaríamos exilados ou presos, e esses golpistas estariam no poder. Ora, diriam os fascistas: “ mas estes eram buchas de canhão! ”. Não seremos nós, democratas, a decidir o papel deles, mas sim o poder competente para tanto. As instituições estão funcionando e nós apoiamos o Poder Judiciário.
Necessário se faz que a gente passe a analisar, com uma lupa constitucional, o que está ocorrendo no julgamento do século: o do que ocorreu no dia 8 de janeiro, o dia da infâmia. É mais do que um julgamento, é um recorte significativo do nosso tempo. Não podemos deixar de encarar a realidade, que bate às nossas portas e na nossa cara: os fascistas tentaram um golpe! Ousaram contra nossas bases democráticas e se prontificaram a destruir as instituições. São golpistas vulgares e banais. Investiram criminosamente contra os três Poderes, mas nós os vencemos.
Não há outra saída, a não ser a aplicação da lei para enfrentá-los. O país agradecerá muito em breve.
O certo é que, dos 1.500 presos logo após a tentativa frustrada de golpe, hoje restam 294 – 86 mulheres e 204 homens. Mas esses são os bolsonaristas mais idiotas, os que ainda acreditam que o ex-presidente é um mito e que sequer sabem que a família Bolsonaro os despreza. Na realidade, os que estão no presídio foram abandonados e esquecidos, deixados à própria sorte. E, quase certamente, serão condenados de 8 a 12 anos de cadeia sem a possibilidade de responderem o processo em liberdade e, ainda, com cumprimento imediato da pena. Por quanto tempo seguirão amando o mito? É um enredo trágico seguido por um bando de imbecis vulgares.
O importante, agora, é acompanhar os desdobramentos da Operação que investiga os responsáveis pela tentativa de subversão da ordem constituída. É um momento sério e, com a firmeza que caracteriza as decisões do ministro Alexandre de Moraes, vamos confrontar os financiadores e os grandes apoiadores, políticos, empresários e, até mesmo, a mídia. Para que o país inteiro entenda a dimensão do golpe perpetrado, é inevitável que a apuração se aprofunde e identifique aqueles que seriam os reais detentores do poder no golpe frustrado.
É preciso esclarecer e, dentro dos limites constitucionais, responsabilizar os grandes empresários, os fazendeiros dinheiristas, os políticos, enfim, os verdadeiros orquestradores da ruptura constitucional. É assim que se dá ao longo da história. Nós, que vencemos, vamos reconstruir o Brasil. Os que, ao perderem, tentaram, insuflaram e promoveram a rebelião terão seu lugar reservado na Papuda, ou no desprezo frio do esquecimento da história. Mas o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o caso, é que dará a palavra final. O Poder que sustentou a estabilidade democrática e que impediu o motim tem a mais difícil tarefa da história recente: desnudar os mistérios dos verdadeiros fascistas do golpe. O país inteiro espera e apoia.
Lembrando-nos de Augusto dos Anjos, no livro "Eu, poema Tempo Idos":
“Não enterres, coveiro, o meu Passado,
Tem pena dessas cinzas que ficaram;
Eu vivo dessas crenças que passaram,
E quero sempre tê-las ao meu lado!”
Antônio Carlos de Almeida Castro, kakay