
A guerra comercial desencadeada por Washington pode dar uma nova oportunidade para Pequim ao tornar possível tirar da órbita norte-americana o Japão e a Coreia do Sul. Essas duas economias potentes podem ser cortejadas pela China.
A tentativa chinesa já se materializou com o encontro recente em Tóquio dos ministros da economia, comércio e indústria dos três países. Paralelamente houve também uma reunião dos ministros das relações exteriores dessas nações.
Há cinco anos não se via na Ásia uma reunião diplomática tão relevante de Pequim com Tóquio e Seul. E não por acaso com a guerra comercial organizada por Trump que pode jogar os japoneses e coreanos nos braços da China.
Com o fatídico dois de abril às três potências asiáticas se organizam para reagir em conjunto a chantagem tarifária dos Estados Unidos. Pode ser o sinal de mais uma reviravolta geopolítica.
Seria um novo extremo oriente pós americano ou até mesmo anti-americano. Visto como Trump trata a Europa seria possível para os asiáticos também uma retaliação com esse novo trio atuando conjuntamente para fazer face à guerra comercial.
Essa nova estratégia dos dois países o Japão e a Coreia do Sul os poria na esfera de influência chinesa.
E Washington perderia nesse caso dois aliados graças a Trump e sua política comercial agressiva.
Pequim busca tirar o máximo de vantagens dessa situação redesenhando o mapa econômico do Extremo Oriente. A China tenta aproveitar essa oportunidade e o clima de tensão comercial para relançar o seu plano de Regional Comprehensive Economic Partnership. Esse Rcep foi proposto pelos chineses em 2011 na cúpula de Bali da ASEAN.
Relançado em 2012 já conta com quinze países que representam dois bilhões e duzentos milhões de habitantes ou seja quase trinta por cento da população mundial e cerca igualmente de trinta por cento do PIB global.
O projeto estava mais no plano virtual mas pode agora decolar graças aos erros de Washington.
Com a dependência cada vez maior da China de suas exportações seria uma nova oportunidade para a redução de tarifas no continente asiático.
Com o protecionismo crescente dos Estados Unidos Xi Jinping pretende aproveitar este momento para redesenhar o panorama econômico do seu entorno e organizar uma ordem global contra Washington tal como a Belt and Road Initiative, como a expansão dos Brics e a conferência de cooperação de Shanghai.
Nesse contexto também se encaixa a tentativa de substituir o dólar em transações financeiras e comerciais enfraquecendo os Estados Unidos. Esse projeto chinês se apoia no multilateralismo e tenta incluir um número crescente de nações no grupo contra Washington.
Seria uma ou a alternativa ao Make America Great Again.
Pequim vai jogar essa carta agora com Tóquio e com Seul reunindo eventualmente um trio poderoso de economias avançadas tecnologicamente.
Os líderes do Japão e da Coreia do Sul conhencem bem a China e podem avaliar com realismo essa oportunidade nova de estratégia comercial comum.
E podem decidir que essa carta chinesa serve como reação a chantagem tarifária de Trump .
O Brasil precisa ficar atento no caso dessa tríplice aliança se consolidar particularmente hoje e após a visita do presidente Lula ao Japão e ao Vietnã.