A ONG Me Too Brasil, que apresentou as denúncias que resultaram na demissão de Silvio Almeida do Ministério dos Direitos Humanos , comemorou seus quatro anos na última segunda-feira. A organização, descrita como um “espaço seguro e de confiança para quem mais precisa”, foi criada em 2019 por um grupo de advogadas e ganhou status de ONG no ano seguinte. Marina Ganzarolli, de 38 anos e presidente da entidade, possui 18 anos de experiência no combate à violência de gênero.
Com o apoio de 420 voluntários, a Me Too Brasil oferece informações sobre reparações e ajuda psicológica a pessoas de todas as idades que sofreram agressão sexual. As denúncias podem ser enviadas pelo site (metoobrasil.org.br) ou pelo telefone gratuito (0800 020 2806).
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Embora o movimento Me Too tenha ganhado destaque internacional em 2017, após as acusações contra o ex-produtor Harvey Weinstein, a versão norte-americana já existia desde 2006. Idealizado pela ativista Tarana Burke, o movimento começou no MySpace como uma forma de apoio para uma jovem vítima de abuso. O Me Too Brasil, apesar de autorizado a usar o nome, não possui vínculo direto com as ativistas americanas.
Antes das denúncias contra Silvio Almeida, a ONG já esteve envolvida em outros casos notáveis. Em junho de 2022, mobilizou-se em apoio às funcionárias da Caixa Econômica, que acusaram o então presidente do banco, Pedro Guimarães, de assédio sexual. No mesmo ano, a organização recebeu 96 denúncias contra o juiz Marcos Scalero, que foi aposentado em 2023 por decisão do Conselho Nacional de Justiça.
Em uma entrevista ao Meio & Mensagem, Marina Ganzarolli explicou que a ideia de criar uma ONG semelhante ao movimento Me Too surgiu após conhecer a Rape, Abuse and Incest National Network (RAPE), dos Estados Unidos. A organização americana, dedicada ao enfrentamento de abuso sexual, inspirou Ganzarolli a buscar a autorização para o uso do nome Me Too no Brasil. Ela destacou a relevância do movimento no enfrentamento de casos de abuso e assédio em diversas esferas, incluindo os recentes casos de figuras públicas no Brasil.
"Eu precisava de um nome melhor que Rede Nacional de Enfrentamento ao Incesto, Pedofilia e Estupro. Com o surgimento do movimento Me Too em Hollywood, surgiram os casos contra Harvey Weinstein, Jeffrey Epstein e, no Brasil, contra João de Deus, Roger Abdelmassih, Marcius Melhem e Saul Klein. Então, fui atrás do movimento nos Estados Unidos, conversei com elas e consegui a autorização", narrou.
Leia abaixo a íntegra da nota do Me Too Brasil sobre o caso envolvendo Silvio Almeida
Nota Pública - Me Too Brasil - Caso Silvio Almeida
"A organização de defesa das mulheres vítimas de violência sexual, Me Too Brasil, confirma, com o consentimento das vítimas, que recebeu denúncias de assédio sexual contra o ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos. Elas foram atendidas por meio dos canais de atendimento da organização e receberam acolhimento psicológico e jurídico.
Como ocorre frequentemente em casos de violência sexual envolvendo agressores em posições de poder, essas vítimas enfrentaram dificuldades em obter apoio institucional pra a validação de suas denúncias. Diante disso, autorizaram a confirmação do caso para a imprensa.
Vítimas de violência sexual, especialmente quando os agressores são figuras poderosas ou influentes, frequentemente enfrentam obstáculos para obter apoio e ter suas vozes ouvidas. Devido a isso, o Me Too Brasil desempenha um papel crucial ao oferecer suporte incondicional às vítimas, mesmo que isso envolva enfrentar grandes forças e influências associadas ao poder do acusado.
A denúncia é o primeiro passo para responsabilizar judicialmente um agressor, demonstrando que ninguém está acima da lei, independentemente de sua posição social, econômica ou política. Denunciar um agressor em posição de poder ajuda a quebrar o ciclo de impunidade que muitas vezes os protege. A denúncia pública expõe comportamentos abusivos que, por vezes, são acobertados por instituições ou redes de influência.
Além disso, a exposição de um suposto agressor poderoso pode encorajar outras vítimas a romperem o silêncio. Em muitos casos, o abuso não ocorre isoladamente, e a denúncia pode abrir caminho para que outras pessoas também busquem justiça.
Para o Me Too Brasil, todas as vítimas são tratadas com o mesmo respeito, neutralidade e imparcialidade, com uma abordagem baseada nos traumas das vítimas. Da mesma forma, tratamos os agressores, independentemente de sua posição, seja um trabalhador ou um ministro.
Me Too Brasil
O Me Too Brasil oferece escuta e acolhimento qualificados a todos os sobreviventes de violência sexual, por meio do site metoobrasil.org.br/ e do número 0800 020 2806, disponível em todo o território nacional. A organização fornece informações sobre possíveis reparações e oferece apoio psicológico contínuo, focado na saúde mental, no empoderamento e na reconstrução da autonomia das vítimas.
Atendemos todas as pessoas independentemente de raça, origem, poder, classe, orientação sexual, identidade de gênero, idade ou gênero. A identidade e os fatos relatados ao nosso canal 0800 são mantidos em sigilo e só são divulgados publicamente com o consentimento das vítimas ou com a aprovação da equipe técnica responsável pelo acolhimento."
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