A equipe de vigilância da Univaja que faz inspeções na ausência de ações concretas da Funai para conter invasores
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A equipe de vigilância da Univaja que faz inspeções na ausência de ações concretas da Funai para conter invasores

Nesta segunda, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) inicia uma agenda em Brasília, com parlamentares e o Conselho Nacional de Justiça, em busca de medidas de segurança para a região do Vale do Javari, além de reforçar os pedidos de investigação sobre possíveis mandantes dos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips.

Uma das propostas que a Univaja vai levar aos deputados federais é a possibilidade de instauração de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) na região do Alto Solimões, conforme sugerido pelo procurador-geral Augusto Aras em reunião neste domingo.

No entendimento da associação indígena, as últimas declarações dos delegados indicam que a investigação caminha para a conclusão de um crime simples, ou seja, de uma vingança pessoal de Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado. Essa versão não agrada à Univaja, que vem denunciando a presença de uma estrutura criminosa robusta no Vale do Javari e, portanto, acredita que os assassinatos fazem parte desse contexto mais complexo.

Segundo Eliésio Marubo, assessor jurídico da Univaja, as autoridades que investigam o caso afirmaram ao Procurador-Geral, Augusto Aras, em reunião nesse final de semana, que acreditam que a causa do crime foi uma vingança pessoal contra Bruno Pereira. Na sexta-feira, a Polícia Federal já havia afirmado que os suspeitos de envolvimento no desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips agiram "sem mandante nem organização criminosa por trás do delito".

"Discordamos totalmente dessa ideia. É uma afirmativa totalmente equivocada diante das informações que temos. Então é prematuro afirmar isso, no momento em que que há uma organização criminosa na região. É preciso aprofundar as investigações", afirmou Marubo, que também criticou a fala do vice-presidente Hamilton Mourão, que disse nesta segunda que um "comerciante da área" seria um possível mandante do crime.

"Temos que evitar as questões ideológicas que pairam sobre o inquérito. Ideológicas porque estão alinhadas com o pensamento que minimiza a atuação do Bruno na região, como se ele estivesse se aventurando. A atuação dele era a favor do interesse público e impedia a livre atuação do crime. Não foi só um simples rapaz que estava bebendo, ficou com raiva, e quis matar o Bruno".

Uma das formas de garantir aprofundamento das investigações é o fortalecimento das instituições que já atuam no Vale do Javari, como Ministério Público, Polícia Federal e Funai. No entanto, as equipes no campo estão trabalhando, atualmente, em condições precárias, com pouca estrutura e pessoal, afirma Marubo.

"Na região, temos pouca atuação policial. A PF não dispõe de todos recursos necessários, e nem a Polícia Civil. Essa estrutura não tem como atender a tudo que a investigação demanda", diz o assessor jurídico.

Proposta de Garantia da Lei e da Ordem no Vale do Javari
Diante desse cenário, a Univaja busca uma agenda com a Comissão Externa criada pela Câmara dos Deputados para acompanhar as investigações, já nesta segunda. Segundo Beto Marubo, outra liderança da Univaja, as tratativas estão sendo feitas com o deputado federal José Ricardo (PT) para que o encontro aconteça às 18h. Amanhã, às 10h, haverá reunião com o CNJ, e os indígenas ainda buscam uma reunião com o Senado, que também instaurou uma Comissão Externa para acompanhamento do caso.

Além de pontos sobre a investigação, a Univaja quer que parlamentares ajudem na formulação de medidas de segurança para a população do Vale do Javari.

"Queremos atuação do estado em decorrência do aumento da violência. Os nossos parentes estão assustados. O que o estado brasileiro vai fazer agora?", disse Beto Marubo, que está elaborando um documento com as principais demandas desse tema.

Neste domingo, numa reunião com a Univaja, Augusto Aras sugeriu a instalação, por parte do governo do Amazonas, de uma GLO na região do Alto Solimões, onde fica o Vale do Javari, como forma de garantia da segurança. A associação é a favor da ideia e levará a proposta aos parlamentares.

"A região está desprotegida. A GLO pode impor, provisoriamente, a garantia de segurança na regiã oaté termos uma medida mais efetiva", explicou Eliésio Marubo.

O caso

Bruno e Dom desapareceram no último dia 5 de junho. Três suspeitos já estão presos pelo crime: Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado – que confessou o crime –, Oseney da Costa Oliveira, o Dos Santos, e Jeferson da Silva Lima, o Peladinho ou Pelado da Dinha – que assumiu ter participado, mas negou que tenha feito disparos. Outros cinco já foram identificados pela polícia e são investigados. Os agentes tentam ainda chegar a outros nomes que teriam ajudado os assassinos a esconderem os corpos.

Após dias de buscas, a polícia conseguiu chegar até os corpos depois que o assassino confesso, conduzido, levou os agentes até o local onde eles foram enterrados, mais de 3 quilômetros adentro das margens do Rio Itaquaí. O barco usado por Bruno e Dom, afundado pelos executores após o crime, foi encontrado na noite deste domingo (19) e também passará por perícia.

O que já se sabe sobre a dinâmica do crime:

Perseguição

Testemunhas relataram ter visto Pelado perseguindo a lancha usada por Pereira e Phillips. O suspeito alcançou as vítimas nas proximidades da comunidade São Rafael, situada nas margens do rio Itaquaí.

Durante a perseguição, em alta velocidade, Pelado estaria acompanhado de outras quatro pessoas, que ainda não foram identificadas pelos investigadores.

Uma testemunha considerada chave afirmou que viu Pelado carregar uma espingarda e fazer um cinto de munições e cartuchos pouco depois que o indigenista e o jornalista inglês deixaram a comunidade São Rafael com destino à Atalaia do Norte.

Embate e tiros

Em entrevista coletiva nesta quarta-feira, Fontes afirmou que houve um "embate" e que os suspeitos que fizeram "disparo de arma de fogo" contra Pereira e Phillips. O tiroteio aconteceu no leito do rio Itaquaí.

O delegado, no entanto, não confirmou que as mortes foram causadas por disparo de arma de fogo. De acordo com Fontes, somente a perícia vai determinar o que provocou as mortes.

Barco afundado

A embarcação em que os dois viajavam foi encontrada no Rio do Itacoaí, nas proximidades da comunidade de Cachoeira, na noite de ontem. "A embarcação será submetida nos próximos dias aos exames periciais necessários, de modo a contribuir com a completa elucidação dos fatos", diz nota da PF. De acordo com a polícia, a lancha foi localizada a cerca de 20 metros de profundidade, emborcada com seis sacos de areia a uma distância de 30 metros da margem direita do rio. Também foram encontrados um motor e quatro tambores que eram de propriedade do Bruno.

O delegado Guilherme Torres, da PF, afirmou durante coletiva nesta quarta que a lancha foi naufragada propositalmente. Os suspeitos colocaram peso na embarcação para que ela ficasse submersa.

De acordo com Fontes, Pelado e os outros suspeitos primeiro tiraram o motor do barco e afundaram. Depois colocaram sacos de terra dentro da embarcação e fizeram com que ela afundasse.

Corpos enterrados

Torres explicou que os suspeitos seguiram pelo igapó após terem afundado a embarcação. Segundo o delegado, foi feita uma varredura até chegar ao local onde os corpos foram ocultados.

O ocultamento ocorreu no dia seguinte ao crime, segundo os investigadores. Os corpos foram encontrados em um local de "dificílimo acesso", situado a mais de 3 km da margem do rio.

"3,1 quilômetros mata adentro, um local de dificílimo acesso. Para você ingressar com embarcação ela deve ser muito pequena. Sem contato telefônico, um agente teve de deixar o local para me informar que foram encontrados remanescentes humanos", disse o delegado Eduardo Alexandre Fontes, superintendente regional da PF.

Pelado confessou mortes

O principal suspeito preso pelo desaparecimento do indigenista brasileiro e do jornalista inglês confessou na noite de terça-feira o assassinato das vítimas. Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como Pelado, assumiu participação nas mortes. A polícia levou um investigado para a área de buscas pelas vítimas, que não são vistas desde o dia 5 de junho.

O irmão de Pelado, Oseney da Costa Oliveira, o Ney, não confessou o crime, mas, de acordo com a PF, ele é apontado nas investigações como um dos envolvidos. Outras cinco pessoas são investigadas no caso.

Os "remanescentes humanos" achados pela equipe de buscas ao indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips no Vale do Javari chegaram nesta quinta-feira (16) a Brasília. Nesta sexta-feira (17), os fragmentos começarão a ser examinados pelo Laboratório de Criminalística da Polícia Federal, para que se confirme se são mesmo de Dom e Bruno, e detalhes de como eles foram mortos.

Os dois foram assassinados no Vale do Javari, na Amazônia, após um "embate" no qual os suspeitos fizeram "disparo de arma de fogo", segundo Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, pescador que confessou o crime em depoimento à Polícia Federal. O irmão de Amarildo, Oseney da Costa Oliveira, conhecido como Dos Santos, também está preso. Os fragmentos de corpos foram achados a partir de indicações de Amarildo, que foi ao local com uma equipe da PF.

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