Uma operação da Polícia Civil, em parceria com a Secretaria estadual de Administração Penitenciária, desarticulou, nesta terça-feira, uma quadrilha especializada em libertar detentos do Rio com o uso de alvarás falsos. Entre os presos, estão duas advogadas, um inspetor penitenciário e um falso advogado, apontado como mentor do esquema. O grupo teria tirado pelo menos três criminosos da prisão.
Todos foram beneficiados pelos alvarás irregulares fabricados pelo falso advogado Arlésio Luiz Pereira Santos, sua mulher Josefa Antônio da Silva e as advogadas Débora Albernaz de Souza e Angélica Coutinho Rodrigues Malaquias Campos. Os documentos falsificados citavam ter sido emitidos pela 8ª Vara Criminal Federal do Rio. O Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), porém, negou que os documentos tenham saído do órgão.
Nos três casos, o mesmo nome de oficial de Justiça foi usado. Um servidor que nunca existiu: José O. P. Pacassi. Ele entrava em contato com os presídios e encaminhava os documentos falsos de soltura. Os alvarás eram enviados ao presídio por um e-mail particular, que pode ser criado de graça na internet — contrariando as normas do Conselho Nacional de Justiça para o envio de documentação do gênero. Pacassi era, na verdade, Arlésio Luiz.
Saiba, abaixo, quem são os três bandidos que deixaram a cadeia graças ao esquema:
João Filipe Barbieri
Condenado a 27 anos de prisão pela Justiça por ser considerado um dos maiores traficantes de armas do mundo, João Filipe Cordeiro Barbieri, de 31 anos, enteado de Frederick Barbieri, o “Senhor das Armas”, preso nos Estados Unidos por tráfico internacional de armas e munições, saiu pela porta da frente da Penitenciária Lemos Brito, no Complexo de Gericinó, em Bangu, no dia 18 de novembro do ano passado. Segundo o Ministério Público Federal (MPF) do Rio, entre os anos de 2014 e 2017, padrasto e enteado fizeram mais de 75 importações de fuzis e munição para o Brasil.
O material era enviado ao país dentro de aquecedores e bombas d’água para piscinas. Ainda de acordo com o MPF, estima-se que nesse período os condenados enviaram ao país 1.043 fuzis com carregadores e 297 mil unidades de munição. O material era remetido de Miami para o Brasil por Frederick. Em solo brasileiro, cabia a João Filipe a distribuição do armamento para as facções que atuam no estado.
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Frederick, João Filipe, a mulher de Frederick e outras 13 pessoas foram denunciadas pelos crimes de organização criminosa, tráfico internacional de armas de fogo, munições e acessórios de uso restrito. João Filipe é considerado foragido.
João Victor Silva Roza
Condenado pela Justiça Federal a mais de 20 anos de cadeia, João Victor Silva Roza também se valeu do documento falso para sair do Instituto Penal Vicente Piragibe, em 9 de outubro do ano passado. Roza foi condenado por tráfico internacional de armas e faz, segundo as autoridades, parte da mesma quadrilha de Frederick e João Filipe. O bandido também é considerado foragido.
Gilmara Monique de Oliveira Amorim
Condenada a 18 anos por sequestro e assalto a banco, Gilmara Monique de Oliveira Amorim foi mais uma que saiu pela porta da frente da cadeia graças a um alvará falsificado, também em novembro de 2020. Ela acabou recapturada na última quinta-feira, na Cidade Nova, no Centro do Rio. Segundo as investigações, no dia em que deixou a penitenciária, a mulher comemorou a saída em um churrasco em que estava Arlésio Luiz.
Segundo a sentença que a condenou, Gilmara integrou um grupo acusado de planejar e executar mais de dez assaltos a banco no Rio. Ela também participou de um sequestro do gerente da agência da Caixa Econômica Federal no Aeroporto do Galeão, em 2008. Na ocasião, o bancário, a esposa e a filha foram mantidos em cativeiro por um dia.