Protesto na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, marca a morte da menina Maria Eduarda dentro de uma escola
Fernando Frazão/Agência Brasil - 30.03.2018
Protesto na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, marca a morte da menina Maria Eduarda dentro de uma escola

Um ato para relembrar 47 crianças que foram mortas em tiroteios no estado do Rio de Janeiro entre 2007 e 2018 foi realizado na manhã desta sexta-feira (30) na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. A data da manifestação, promovida pela organização não governamental Rio de Paz, marca o primeiro aniversário de morte de Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, que foi atingida por uma bala perdida dentro da própria escola, em Acari.

Leia também: Promotoria do RJ denuncia traficantes por assassinatos de pessoas ligadas a PMs

Maria Eduarda estava no ginásio da Escola Municipal Daniel Piza quando foi atingida por tiros disparados por um policial militar do Rio de Janeiro que participava de uma operação na comunidade. Os policiais Fábio de Barros Dias e David Gomes Centeno foram denunciados por homicídio.

Os dois respondem em liberdade enquanto o processo corre na 3ª Vara Criminal do Rio de Janeiro. Segundo a Polícia Militar, por enquanto, os dois estão executando trabalho administrativo, ou seja, não estão fazendo trabalho de patrulhamento ou policiamento de ruas.

“Para mim é como se tivesse sido ontem. Não vou esquecer nunca a Maria Eduarda, meu bebê. Ela estava estudando para ser aeromoça e atleta. É muita saudade. Eu durmo com a Maria Eduarda. Eu levanto com ela falando: 'mamãe, está na hora do colégio'. Minha filha não estava portando fuzil, minha filha não estava no baile dançando, minha filha estava dentro de uma escola. Os policiais chegaram e mataram o sonho da Maria Eduarda”, disse a mãe, Rosilene Alves Ferreira.

Leia também: Secretário municipal e professora são mortos em Belford Roxo, no Rio de Janeiro

A família de Maria Eduarda pede ainda, na Justiça, uma indenização ao Estado. Os parentes também querem apoio psicológico para superar o trauma. A Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos (SEDHMI) ofereceu assistência jurídica à família da vítima, junto com a Defensoria Pública do Estado, mas, segundo o governo fluminense, os parentes optaram por utilizar os serviços de um advogado particular.

“Na época, a pasta ainda ofereceu assistência jurídica e social aos parentes da vítima, entretanto, não manifestaram interesse. A SEDHMI reforça a disponibilidade em oferecer apoio psicológico, jurídico e social”, diz a nota.

Protesto em Copacabana

Segundo presidente da Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, muitas das mortes ocorreram em confrontos envolvendo a polícia
Fernando Frazão/Agência Brasil - 30.03.2017
Segundo presidente da Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, muitas das mortes ocorreram em confrontos envolvendo a polícia

O ato da ONG Rio de Paz envolveu a colocação de varais com placas que traziam o nome de cada uma das 47 vítimas. Além disso, havia pertences das crianças e manchas vermelhas na areia, que simbolizavam o sangue de cada uma delas.

Durante o protesto, dezenas de colegas de escola de Maria Eduarda fizeram um minuto de silêncio em homenagem às crianças. Outra das vítimas homenageadas foi o menino Jeremias Moraes da Silva, morto, segundo a família, por policiais militares dentro da favela Nova Holanda.

“A gente vê um caveirão [veículo blindado da PM] entrando numa comunidade, a gente já sai correndo, porque sabe que ele vai atirar. A criança estava de costas na porta de uma irmã da igreja. Por que a polícia atirou? Não consigo ter essa resposta. Ele não estava armado, não estava com drogas, não estava com nada. [A polícia] atirou por quê? ”, disse a mãe do menino, Vânia Moraes da Silva.

Segundo o presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, muitas dessas mortes ocorreram em confrontos envolvendo a polícia. Segundo ele, as autoridades públicas não podem deixar os criminosos agirem impunemente, mas o trabalho de segurança pública deveria ser feito com mais inteligência, de forma a não fazer vítimas inocentes.

Leia também: ONU exige investigação 'rápida e imparcial' sobre assassinato de Marielle Franco

“Ninguém quer bandido solto, aterrorizando, matando. Mas ninguém quer que uma criança pague com o seu sangue o preço de uma pacificação que nunca chega”, disse.

Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Segurança do Rio de Janeiro informou que publicou, em agosto do ano passado no Diário Oficial do Estado, uma instrução que estabelece diretrizes para ações em localidades onde se presume que possa ocorrer elevado risco de confronto armado com criminosos. “As diretrizes foram elaboradas por um grupo de trabalho instituído em julho de 2017 e possui como primeiro princípio a preservação da vida dos moradores dessas áreas e dos policiais”.

*Com informações da Agência Brasil

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!