O Dia

Li a reportagem sobre a reabertura do Hopi Hari. Fiquei feliz em saber que há espaço para matérias sobre parques e sobre brinquedos. Veja a opinião de Gabriel Chalita na íntegra:

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Gabriel Chalita é escritor e professor
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Gabriel Chalita é escritor e professor


Longe de mim achar que temos de fechar os olhos para as graves crises que nos assolam. Precisamos de informações corretas e de opiniões edificantes. Precisamos de consciência política e de atitude corajosa frente aos erros tantos que maculam a imagem do nosso país e a esperança que vive acanhada dentro de nós. Mas precisamos, também, de parques e de brinquedos. Precisamos de alegria. A alegria é um bom combustível para a inteligência. A criatividade que brota nas brincadeiras se estende nas várias formas de convivência e de solução de problemas, diz Gabriel Chalita .

Parques de diversão são um convite ao estar junto, ao rir, ao sentir e vencer o medo, ao se emocionar. É bonito de se ver os olhos ávidos de crianças que se lançam em cada atração. E de adultos que se permitem revisitar os melhores sentimentos da criança.
Já fui a muitos parques de diversão. Alguns pequenos, na minha cidade do interior.

Ficava vendo a montagem do parque que funcionaria apenas durante a Trezena de Santo Antônio, o padroeiro da cidade. E brincava o quanto podia. E, depois, via tudo sendo desmontado. A alegria partia um pouco e um pouco permanecia. Afinal, temos o humano poder da lembrança.

Menino ainda, fui a excursões nos parques de diversão em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os dois, aliás, Playcenter e Tivoli Park da Lagoa, já não existem mais. Mas me lembro das façanhas, dos medos, do correr cúmplice na chegada aos brinquedos, dos lanches, da ansiedade na ida e do cansaço da volta — éramos promessa, o tempo ainda não nos mostrava a sua face, a sua pressa.

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Tínhamos pressa em brincar. Em rir. Em nos soltarmos da realidade para viver a fantasia desses mundos encantados. A volta para casa era cheia de relatos corajosos. Enfrentamos as montanhas-russas mais íngremes, entramos na casa dos monstros, no rio cheio de ondas, nos gigantes aparelhos. Sem pestanejar. E falávamos aos nossos pais, que vibravam com a nossa alegria.

Fico perplexo em ver a pouca disposição de alguns pais de ouvir os relatos dos filhos. Preocupam-se quando se trata de assunto preocupante, como uma doença, mas, quando se trata de ouvir sobre brincadeiras, parece desnecessário. Não é. Cada relato de um filho compõe sua trajetória. E tão importante quanto o conteúdo a ser dito é o som da voz e o encontro do ouvir e o olhar de atenção e o partilhar de vidas que se dão em todo lugar, mas que, na família, precisa ser ainda mais cuidado.

Meu pai ficava em sua cadeira de balanços enquanto eu contava o que havia feito no parque. Do parque, passei a contar tudo o que fazia na vida. Erros e acertos. O que foi um aprendizado para mim. Soube, desde cedo, que não precisava mentir para ser amado. Meu pai me amava não pelas minhas notas altas, não pelas minhas façanhas de super-herói, mas por ser seu filho.

E um gigante parque reabre. Que boa notícia. Quero ir para lembrar o ontem e para viver, na minha idade, a idade que nunca morre quando prestamos atenção. É bom ser novamente criança. É bom deixar as rugas penduradas em algum canto das nossas preocupações e rir o riso livre, solto, generoso. E usar outra linguagem. E se permitir as lembranças que alimentam. Há tantas que desnutrem. Comer com os filhos. Abraçá-los. Aliviar os seus medos. Ter medos com eles. Enfrentar o que há por vir. E prestar atenção ao pôr do sol em um parque de diversões. Deixar a roda-gigante substituir os gigantes problemas. Por um dia. Quem sabe esse dia tenha um poder milagroso.

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Hopi Hari será inaugurado no dia 5 de agosto
Divulgação
Hopi Hari será inaugurado no dia 5 de agosto

Há parques em todos os lados. E, em todos os lados, é possível brincar. Nada contra os jogos tecnológicos, mas precisam as crianças das brincadeiras com gente. Das emoções que as gentes proporcionam.

Dias atrás, fiquei com três lindas crianças toda uma tarde. Contando histórias. Brincando de finais tristes ou felizes. Aqueles olhares ainda estão em mim. Saudade é uma palavra que tem destaque especial no meu dicionário. Saudade do meu pai. Dos parques da minha infância. Daquelas três crianças me pedindo para que eu repetisse, mais uma vez, a mesma história.

Precisamos de informações e de opiniões corretas, mas precisamos de sorrisos. E de brincar.

Gabriel Chalita é escritor e professor

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