No período de 2013 a 2016, o governo do estado de São Paulo reduziu em 45% os investimentos no Metrô. Nesse mesmo espaço de tempo, ocorreram três descarrilamentos, sendo que dois deles no começo deste ano. 

De acordo com a execução orçamentária do Metrô , em 2013 o governo investiu R$ 3,2 bilhões na companhia. Já em 2016, o investimento total caiu para R$ 2,2 bilhões. No item operação das linhas, a redução foi de 16%, passando de R$ 54,7 milhões em 2013 para R$ 47 milhões no ano passado. 

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Deic abriu inquéritos em 2013 para apurar possíveis sabotagens que teriam causado panes em trens
Hellen Lobo/Diário SP
Deic abriu inquéritos em 2013 para apurar possíveis sabotagens que teriam causado panes em trens

Segundo o promotor Marcelo Milani, que investiga contratos para reforma da Frota K do Metrô, sob suspeita de superfaturamento, não resta dúvida de que os acidentes decorrem do sucateamento da rede. 

"Existem várias ocorrências de problemas ocorridos com essa Frota K, inclusive trens que andam sozinhos e trens que descarrilam", disse o promotor. "É uma frota sucateada porque o Metrô, em vez de comprar trens novos, resolveu optar por reformar os trens de 40 anos." 

Já a diretoria do Sindicato dos Metroviários acusa a companhia de sobrecarregar a frota existente em função da falta de novos investimentos. "A Frota K, por exemplo, está cada vez mais sobrecarregada", afirmou o diretor Alex Santana. "Os truqes (conjunto onde vão as rodas) são os originais de 40 anos atrás. Só que a parte de cima dos trens foi reformada para receber mais passageiros e sistema de ar condicionado, com muito mais peso." 

CPTM/ No caso da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos,embora o governo alegue que no exercício de 2015 os custos com a manutenção superaram em 10,3% os de 2014, acidentes também não param de acontecer. 

Nos dois primeiros meses deste ano houve um descarrilamento e uma colisão no sistema da CPTM e, segundo o presidente do Sindicato dos Ferroviários do Estado de São Paulo, Eluiz Alves de Matos, eles aconteceram em função do sucateamento da rede. 

"Faltam peças de reposição e as equipes de manutenção, terceirizadas, foram reduzidas", afirmou. "Basta ver o número de cautelas na linha para verificar que a situação está pior a cada dia." 

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Cautelas limitam a velocidade dos trens para os maquinistas trafegarem em função da falta de segurança. "O motivo mais frequente paras essas cautelas é o desgaste acentuado dos trilhos", disse Eluiz. "Além da falta de segurança, esses problemas causam enormes atrasos em todo o nosso sistema." 

Lívia Bitencourt já ficou 15 minutos parada no vagão durante uma pane
Hellen Lobo/Diário SP
Lívia Bitencourt já ficou 15 minutos parada no vagão durante uma pane

Como exemplo, Eluiz disse que a viagem normal de Francisco Morato, na Grande São Paulo, à Luz, no Centro, leva 50 minutos. "Com as cautelas, que obrigam o maquinista a rodar entre 20 e 40 quilômetros por hora, leva uma hora e 10 minutos." 

Segundo o presidente do sindicato, há cautelas atualmente na Linha 7 (Luz a Jundiaí) em 15 trechos. Já na Linha 10 (Luz a Rio Grande da Serra) , segundo ele, existem cautelas em 10,9% da linha. 

Deic investigou possível sabotagem na CPTM 

O Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), da Polícia Civil, abriu sete inquéritos em 2013 para apurar possíveis sabotagens que teriam causado panes em trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Os casos foram configurados como “atentados contra a segurança e serviço de utilidade pública” e “perigo de desastre ferroviário”. 

As investigações foram abertas depois que o próprio governador, Geraldo Alckmin (PSDB), justificou como “vandalismo ou sabotagem” uma pane de cinco horas ocorrida na Linha 9-Esmeralda, utilizada por quase um milhão de pessoas diariamente. Uma composição que seguia em direção a Osasco, na Grande São Paulo, se enroscou na rede elétrica aérea e precisou ser rebocada, causando superlotação nas estações. 

Alckmin convocou a imprensa para dizer que alguém teria conseguido arremessar, da Ponte do Morumbi, Zona Oeste da capital, um cabo de vassoura em direção aos trilhos. Quando o trem passou, a peça que conecta o trem à rede se enroscou nos fios, causando a pane. 

O governador exibiu fotos dos trilhos, com os cabos de vassoura no chão. “Vejam aqui: madeira, cabo de vassoura, tudo em cima da linha. Foi destruído o sistema. É óbvio que o trem, por segurança, para. Isso não é geração espontânea: ou é vandalismo ou sabotagem”, afirmou. “Isso não foi ocasionado por falha nem do trem, nem do sistema, nem da rede elétrica.” As declarações foram dadas em meio à uma onda de críticas à CPTM. A companhia tinha contabilizado 156 panes no ano anterior. Na análise de interlocutores do governador, havia indícios de participação de pessoas ligadas a sindicatos nos atentados. 

A situação ganhava mais dimensão, segundo eles, em anos eleitorais, dado à repercussão negativa e ao desgaste que causava uma pane que afetava um milhão de pessoas. Foram recolhidos pelos policiais dois pedaços de cabo de vassoura, amarrados a um pedaço de fio marrom. No local, não havia câmeras de vigilância para ajudar a investigação. 

Quatro anos depois, a Secretaria de Segurança Pública informou que as investigações não apontaram sabotagem e todos os inquéritos foram finalizados e encaminhados à Justiça. Procurados para comentar os atuais casos de acidentes e panes nos trens da CPTM e do Metrô, os sindicatos refutaram qualquer possibilidade de sabotagem. 

OPINIÃO: 'Há uma perda de confiança em todo o sistema', Telmo Porto, professor da USP 

Um descarrilamento não é um evento corriqueiro. Embora o número de ocorrências não seja tão expressivo perante o número de viagens, elas devem ser investigadas. 

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Nos dois casos recentes do Metrô e no verificado na CPTM, as causas são diferentes em cada um dos incidentes. Na primeira ocorrência do Metrô, dia 7 de fevereiro, houve um superaquecimento do mancal, que é um dispositivo mecânico fixo onde se apoia o eixo das rodas. No segundo, dia 21 de fevereiro, houve uma falha no aparelho de mudança de vias. 

Composição da CPTM que se acidentou na última quinta-feira: 6 feridos
Divulgação
Composição da CPTM que se acidentou na última quinta-feira: 6 feridos

Já na ocorrência da CPTM, no dia 23, uma manutenção na linha ao lado mexeu com a estabilidade do trem. São eventos distintos, mas que merecem investigação e contribuem para a perda da confiabilidade do sistema. 

Frota K acumula histórico de problemas na rede do Metrô 

O trem que descarrilou no dia 7 de fevereiro na Linha 3-Vermelha do Metrô roda há quase 40 anos. É um dos 25 que integram a frota K, que passou por processo de modernização em 2011. 

Era também dessa frota a composição que descarrilou em 2013, próximo à Estação Palmeiras-Barra Funda, na Zona Oeste da capital. 

Além dos descarrilamentos, corriqueiras falhas no fechamento das portas, no sistema de ar condicionado e na tração fizeram com que esse conjunto de veículos passasse a ser considerada "maldito" pelos operadores do Metrô paulista. 

Na última quinta-feira, o DIÁRIO fez uma viagem num vagão da frota K, na Linha 3-Vermelha. O arquiteto Luiz Scalissi disse que ele e seus familiares, que viajam frequentemente naquela linha, já passaram por inúmeros episódios de paradas e falta de comunicação. "Já nos acostumamos com isso", afirmou. "É raro o dia em que alguém da minha família não enfrenta problemas nos trens desta linha", afirmou. 

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Já a professora Lívia Bitencourt disse que chegou a ficar 15 minutos trancada dentro de um vagão, no dia da pane mais demorada pela qual passou. "É angustiante ficar parado no escuro, sem ar condicionado, por esse tempo todo", contou. "Parece uma eternidade que não acaba mais. O pior é que isso é frequente." 

RESPOSTA DO GOVERNO DE SP 

Não faltam recursos para manutenção 

A Secretaria de Transportes Metropolitanos, da gestão Geraldo Alckmin (PSDB), disse que os equipamentos e trens de todas as frotas do Metrô passam periodicamente por rigorosos processos de manutenção preventiva e corretiva. “De 2011 a 2016 o Metrô investiu R$ 2,4 bilhões na operação e na modernização do sistema, uma média de R$ 416 milhões ao ano”, disse. “Os valores respeitam uma dotação orçamentária do estado e seguem um planejamento anual. Os recursos são aplicados de acordo com as etapas de execução dos serviços, podendo ser maiores ou menores em determinados períodos. Já a manutenção preventiva dos equipamentos, frotas e instalações/estações é suportada com recursos próprios da empresa.” Com relação à CPTM, disse que não há falta de recursos para a manutenção. “No exercício de 2015, os custos com a manutenção do sistema superaram os apurados em 2014 em 10,3%”, afirmou. “O balanço de 2016 está sendo fechado.”

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